Brumadinho: evento discute impactos do desastre sobre a saúde e desafios da gestão de riscos

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O desastre ocorrido no município de Brumadinho, provocado pelo rompimento da barragem I da Mina Córrego do feijão da mineradora Vale. S.A, foi tema de um seminário, realizado nesta quinta-feira (21/2), em Belo Horizonte. Durante o encontro, pesquisadores e profissionais da área técnica de  cidades da região do Rio Paraopeba discutiram os impactos sobre a saúde, gerados pelo desastre, bem como os desafios para a gestão de riscos. Também estiveram presentes representantes do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

A diretora da Fiocruz Minas, Zélia Profeta, abriu as atividades, destacando a importância de se fazer reflexões, no sentido de contribuir com o SUS. “A intenção é que esta seja uma reunião , em que as pessoas se sintam à vontade para participar e que, a partir daqui, também possamos pensar em agendas futuras”, afirmou.

A representante do Ministério da Saúde Daniela Buosi falou sobre a atuação do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes), instalado desde o dia do rompimento da barragem, em 25 de janeiro. Segundo ela, o trabalho integrado, entre município, Estado de Minas Gerais e o governo federal, tem sido fundamental para conseguir dar as respostas necessárias.

O subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da SES-MG, Dario Brock Ramalho, ressaltou a necessidade de aprender, registrar as ações e se preparar para ter respostas coordenadas, que possibilitem a agir prontamente, uma vez que, a tragédia ocorrida em Brumadinho deixa claro que outros desastres podem voltar a acontecer. Ele também salientou que, nessas situações, as ações ultrapassam a esfera da saúde.

O pesquisador Carlos Machado, do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (ENSP/Fiocruz), abordou o conceito de desastre, mostrando que tragédias como as da Vale afetam populações mais vulneráveis, deixando-as ainda mais vulneráveis.

Conforme o pesquisador, um desastre tem efeitos imediatos e diretos e outros indiretos, que se prolongam por décadas. Entre os efeitos estão as mudanças sociais e econômicas, que alteram profundamente as condições de vida das pessoas. Há ainda alterações ambientais, que podem modificar o ciclo de vetores, hospedeiros e reservatórios, bem como as ecológicas, como as que ocorrem com a qualidade de água de rios atingidos.

O pesquisador Diego Xavier, do Observatório do Clima e Saúde (Icict/ Fiocruz), apresentou uma avaliação preliminar dos impactos sobre a saúde, devido ao desastre da mineradora Vale, em Brumadinho. Ele destacou que, considerando o Censo de 2010, 10% da população de Brumadinho foi diretamente afetada pela tragédia.

Para o pesquisador, além dos efeitos imediatos, o isolamento de comunidades e perda de condições de acesso a serviços de saúde podem agravar doenças crônicas já existentes na população afetada (hipertensão, diabetes, insuficiência renal, tuberculose, etc), bem como provocar doenças mentais (depressão e ansiedade), crises hipertensivas, doenças respiratórias, acidentes domésticos e surtos de doenças infecciosas.

Os municípios participantes manifestaram a preocupação com a qualidade da água e dos alimentos produzidos na região e solicitaram apoio. A Fiocruz se colocou a disposição dos Municípios, Estado e Ministério da Saúde para a realização de ações coordenadas e integradas entre as três esferas de governo.