Desenvolvimento sustentável é tema de debate durante a SNCT

Qual a fonte de energia mais sustentável? O que fazer para diminuir os agrotóxicos? Como pressionar para que as grandes empresas se esforcem para reduzir as desigualdades? É certo que outros países interfiram nas questões ambientais do Brasil? Foi assim, com muitas perguntas expressando desejo de construir um mundo melhor, que cerca de 200 alunos do ensino médio participaram do Painel de Debates, realizado na última quarta-feira (23/10), dentro da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da Fiocruz Minas.

Tendo como tema Agenda 2030: como a ciência pode favorecer o desenvolvimento sustentável, o evento contou com pesquisadores e representantes de organizações voltadas para questões ambientais, que, durante toda a tarde, fizeram apresentações e responderam às dúvidas dos estudantes. O debate teve a mediação do jornalista e radialista Elias Santos, que promoveu a interação com a plateia.

Abrindo as apresentações, o pesquisador Rômulo Paes falou sobre o papel da ciência para a promover o desenvolvimento sustentável e a redução das desigualdades sociais, destacando que é preciso encontrar meios para que todas as pessoas vivam bem e sem agredir o planeta. “Como fazer isso? A ciência é fundamental. Mas cada um também precisa fazer a sua parte. O caminho está aberto, e a Fiocruz quer que vocês façam parte disso”, ressaltou.

Representando Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Belo Horizonte (Asmare), o Índio Asmare falou sobre a experiência de ter morado nas ruas da capital mineira e como a Asmare o ajudou a encontrar um novo caminho. “Consegui criar meus cinco filhos, cuidando daquilo que as pessoas jogam fora. E tenho muito orgulho de fazer esse trabalho, que não é um trabalho com lixo, mas com materiais recicláveis”, afirmou.

O tema agrotóxicos foi discutido pela pesquisadora Elizabeth Cardoso, coordenadora do estudo Quintais das mulheres e caderneta agroecológica. Apresentando números impactantes, ela ressaltou que a liberação do uso de agrotóxicos é uma ameaça muito séria. “Em 2018, tivemos 450 desses produtos liberados; em 2019, até agora, já são 383.  Ao todo, temos 2149 no país, 309 altamente tóxicos. É urgente pensar em outros modelo de agricultura”, defendeu.

A estudante de Administração Pública da Fundação João Pinheiro Luísa Costa, que integra a equipe do projeto Observatório das Desigualdades, apresentou a situação de Minas Gerais, em comparação com o restante do país, em relação a quatro metas das Agenda 2030: erradicação da pobreza; saúde e bem-estar; educação de qualidade; redução de desigualdades. “Minas está um pouco melhor em relação ao país, mas ainda muito longe de alcançar as metas”, avaliou.

O desastre da Vale e seus impactos na comunidade indígena Pataxó, em Brumadinho, também esteve em pauta. A esis cacique Haio e Ângohó falou sobre a importância de criar alternativas para que as mineradoras não causem mais destruições. “É preciso trazer barragens secas para Minas Gerais. Não podemos aceitar que a Vale continue destruindo vidas; não podemos aceitar que destruam a cultura do meu povo Pataxó”, destacou.

O pesquisador Mariano da Silva, do Centro de Estudo e Pesquisa em Emergência e Desastres em Saúde (Cepedes/ Fiocruz), finalizou as apresentações, discutindo os desafios para a redução de riscos à saúde relacionados a desastres. Citando uma série de doenças ocorridas a partir de tragédias, como as de Brumadinho, ele ressaltou que todas têm a ver com as desigualdades. “Precisamos desenvolver modelos específicos para cada território para amenizar esses adoecimentos”, concluiu.

Os assuntos em pauta interessaram os estudantes, que destacaram a oportunidade de aprender. “Foi ótimo. Falaram sobre muitas coisas que eu não sabia. Nunca tinha ouvido falar da Asmare, por exemplo, e achei muito interessante”, afirmou Caio Barbosa, aluno do Instituto de Educação. “Foi uma experiência incrível. É muito bom aprender coisas novas e conhecer pessoas que fazem a diferença”, ressaltou Isabelle Maria, da Escola Estadual Cláudio Brandão.

Além do Instituto de Educação e Escola Estadual Prof. Cláudio Brandão, participaram do Painel de Debates a Escola Estadual Geraldo Jardim Linhares e a Escola Estadual Lar dos Meninos São Vicente de Paulo, todas escolas públicas situadas em Belo Horizonte.