Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-helmintos

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Tendo como coordenador nacional Naftale Katz pesquisador do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR)/Fiocruz Minas o Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-helmintos começou a ser realizado em 2010.

Solicitado e financiado pelo Ministério da Saúde, o Inquérito tem como objetivo realizar 225 mil exames em escolares de sete a catorze anos, em 541 municípios nas 27 unidades da federação para verificar a prevalência de esquistossomose e verminoses no país. Já foram realizados 80% da meta estipulada. Em algumas regiões os resultados ainda são preliminares como nas regiões Norte e Centro Oeste. Na região Nordeste os exames já foram totalizados; a região Sul está praticamente concluída com exceção de Porto Alegre. Minas Gerais está em fase final, no Espírito Santo e São Paulo faltam as capitais, no Rio de Janeiro somente metade.

Além de Naftale Katz, o inquérito conta ainda com mais seis coordenadores regionais, Constancia Simões Barbosa (CPqAM/Fiocruz Pernambuco) coordenadora da região Nordeste 1 que engloba Pernambuco, Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte; Roberto Sena Rocha(CPqLMD/Fiocruz Amazônia – CPqRR/Fiocruz Minas) da região Norte: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima; Paulo Marcos Zech Coelho (CPqRR/Fiocruz Minas) da região Sudeste: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro; Omar dos Santos Carvalho (CPqRR/Fiocruz Minas) da região Centro Oeste: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins; Carlos Graeff Teixeira (PUC/RS) da região Sul: Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul; Fernando Bezerra (Universidade Federal do Ceará) da região Nordeste 2: Bahia, Sergipe, Paraíba, Piauí e Maranhão.

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Os inquéritos realizados anteriormente, feitos por Pellon e Teixeira em 1949, e pelo PECE – Programa Especial de Controle de Esquistossomose do Ministério da Saúde, em 1977, mostravam que se fosse mantida a mesma prevalência de 1949 (10%) e de 1977 (7%), hoje o país estaria com cerca de 17 milhões de pessoas com esquistossomose. O número encontrado neste inquérito, até agora, é de um milhão e quatrocentas mil pessoas com esquistossomose, portanto, uma redução significativa. O mesmo acontece com as verminoses, no Nordeste, por exemplo, nos inquéritos anteriores, apresentava 98% de positividade e hoje somente 30%. Minas Gerais aparece com ocorrência menor; de São Paulo até o Rio Grande do Sul a positividade é abaixo de 10%, chegando até a menos de 5% de escolares com verminose. De uma maneira geral houve uma melhoria muito grande tanto na diminuição da prevalência da esquistossomose quanto na de geo-helmintos.

Naftale acredita que um dos fatores que pode ter contribuído para esta diminuição da prevalência foi que atualmente o Brasil possui 85% de abastecimento de água, enquanto que em 1940 e 1977 isso era seguramente bem mais baixo, e à rede de esgoto, com apenas 53%, percentual baixo para o país, mas bem melhor do que era na década de 40. “Este investimento no saneamento que acredito que seja a principal causa desta melhoria, aliado ao tratamento de mais de 15 milhões de brasileiros a partir de 1977, contra esquistossomose, e um número igual ou maior contra helmintos”.

Hoje o tratamento para esquistossomose e helmintos é muito fácil, sendo feito em dose única, remédio com baixíssima toxidade e poucos efeitos colaterais. O Ministério da Saúde, através do SUS, disponibiliza o medicamento em todos os postos de saúde. Outro fator que também contribuiu foi o de não se ver mais pessoas descalças nem nas capitais e nem nas cidades do interior, os pés no chão facilitava a penetração do ancilostomídeo, causador do amarelão, doença conhecida pela história de “Jeca Tatu” de Monteiro Lobato.

Ainda segundo Katz, para evitar a transmissão de esquistossomose e verminoses, é necessário aumentar o saneamento do país, “temos que ter um país de primeiro mundo, o governo lançou um projeto para saneamento que prevê que todo o país terá água e rede de esgoto até 2030. Mas para que isso ocorra é necessário que haja um investimento de 20 a 25 bilhões por ano nessa área, o que não tem acontecido até agora, pelo contrário talvez só tenha sido investido em torno de 10 bilhões. Aumentar o investimento é fundamental para que a prevalência da esquistossomose e helmintos diminua, além de contribuir com a diminuição de outras 14 ou 15 doenças veiculadas pela água, sendo, portanto, um passo muito importante”. Continuar o tratamento que está sendo feito, e melhorar o saneamento ambiental de uma maneira geral também contribuirão para o controle das doenças.

Uma surpresa agradável e que mostra que é possível fazer o controle da esquistossomose no Brasil foram os estudos realizados nas áreas em que tinha trabalhado há 30 anos, onde a prevalência era muito alta e hoje é baixa e que felizmente não se encontra mais a doença, “a não serem aqueles casos mais velhos que já apresentavam este quadro. Nenhum caso novo foi diagnosticado em 30 anos de estudo nesta área”. Em Comercinho, interior de Minas Gerais, uma área visitada pela primeira vez em 1974, cuja prevalência era de 70% de esquistossomose e que agora apresenta menos de 2%, lá foram construídas privadas e distribuída água para praticamente 100% da população, o que explica o fato de que Comercinho, praticamente, não apresenta essas parasitoses. Antes 10% dos indivíduos desenvolviam a forma hepatoesplênica da doença, muitos operavam, outros faleciam e hoje em dia não existem mais casos desta forma. No Brasil também houve uma redução enorme da forma hepatoesplênica da doença.

Entrevista com Dr. Naftale Katz – Coordenador do Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-helmintos

Assessoria de Comunicação Social

Fiocruz Minas