Instituto René Rachou: educação e ensino para a ciência e saúde pública

O Instituto René Rachou (IRR), ou Fiocruz Minas, integra a estrutura da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No ano de 1955 o Instituto de Malariologia foi transferido do Rio de Janeiro para a capital mineira, sob a direção do médico René Rachou. Em 1956, o Instituto passou a chamar-se Centro de Pesquisas de Belo Horizonte (CPBH), vinculado ao Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu), que por sua vez integrava o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu).[1] A instituição era destinada a realizar investigações científicas sobre várias doenças que acometiam a população brasileira, como a esquistossomose e a Doença de Chagas. Em 1966, o CPBH passou a chamar-se Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR) e, mais recentemente, Instituto René Rachou (IRR), ou Fiocruz Minas. Apesar das diferentes fases administrativas, trata-se da mesma Instituição, pois ao longo do tempo ela manteve a estrutura física e o quadro funcional.

O CPqRR foi incorporado à Fiocruz em 1970, mas o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) já atuava em Minas Gerais desde o início do século XX, através de filial que manteve no estado entre 1907 e 1936, o Instituto Ezequiel Dias.

Em todos esses momentos históricos a Instituição trabalhou não apenas na pesquisa científica, como também no aperfeiçoamento e na formação dos quadros científicos e de saúde pública. Mesmo que durante muitos anos tais esforços não fossem centralizados em um setor próprio de ensino, é preciso analisar a longa atuação educadora dos centros. Nara Azevedo e Luiz Ferreira, em estudo sobre a história do ensino no IOC, sintetizam bem a questão: “Em uma investigação sobre o desenvolvimento do ensino superior, como desconsiderar meio século dedicado à formação e ao treinamento de pesquisadores e sanitaristas em áreas então emergentes da biomedicina?”.[2] Assim, mesmo que a oferta de cursos, seminários e outras atividades de formação e ensino tenham sido dispersas, isso não diminui a importância e o impacto de tais iniciativas. Tendo em vista as diferentes fases históricas da hoje Fiocruz Minas, propomos mapear parte das realizações e dos projetos que evidenciam a importância da educação e do ensino na história da Instituição.

 

Filial de Manguinhos em Minas Gerais (1907-1936)

Com a criação da filial do IOC em Belo Horizonte, a Instituição logo se transformou em referência para pesquisadores e profissionais de saúde de Minas Gerais. Sua biblioteca era das mais completas e atualizadas, atraindo estudiosos interessados em expandir e aprimorar conhecimentos.[3] Em 1925, notícia de jornal informava que a biblioteca “tem 5.000 volumes e assina 89 revistas, havendo uma sessão semanal […] para leitura dos artigos, pelos técnicos”.[4] Não é de se estranhar, portanto, que nesse ambiente propício para o debate acadêmico, membros do Instituto tenham assumido a posição de professores na Faculdade de Medicina, fundada em Belo Horizonte no ano de 1911: Eugênio de Souza e Silva, Octávio de Magalhães e Amilcar Vianna Martins. O próprio Ezequiel Dias, primeiro diretor da filial, ocupou a cadeira de Microbiologia. Daí em diante a unidade mineira de Manguinhos seria “passagem obrigatória de professores e alunos da Faculdade de Medicina”.[5] Portanto, o quadro de pesquisadores do Instituto foi uma das bases para a composição do corpo docente da Faculdade de Medicina.

Tendo em vista a acumulação de funções, de professor e pesquisador, muitos dos cientistas da filial mineira do IOC também proferiam conferências para os pares e estudantes de cursos superiores. Octávio de Magalhães, que foi diretor da Instituição, afirmou que uma das missões do centro era despertar nos “moços […] a paixão pelos problemas de biologia pura e aplicada”. A intenção era investir na especialização dos pesquisadores do Instituto, com a ambição de enviá-los “aos grandes centros científicos do mundo, para aprendizagem”. O projeto esbarrou em restrições orçamentárias. Mas, além do desejo de manter os pesquisadores atualizados com as melhores práticas científicas, o local também atraiu grupos de estudantes interessados em aprender com o trabalho ali realizado: “Continuavam as visitas numerosas, como a dos alunos das escolas superiores de Farmácia e Odontologia, Nacional de Agricultura, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, Liceu de Humanidades de Campos, grupos escolares, etc., acompanhados de professores e assistentes”.[6] O relato demonstra que o Instituto sabia da sua importância como local de divulgação de pesquisa, centro formador e inspirador de novas gerações de cientistas, abrindo-se para a comunidade externa e dialogando com estabelecimentos de ensino de todo o país.

 

Centro de Pesquisas de Belo Horizonte (CPBH) – Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR) (1956-1970)

Desde o seu nascimento, o CPBH afirmou-se como local de formação de quadros técnico-científicos nacionais. Em 1956, o então diretor do Centro, René Guimarães Rachou, atuou na organização, em Belo Horizonte, do Curso de Atualização em Endemias Rurais, com o intuito de “transferir o médico do trabalho monovalente ao polivalente”, de modo a que conhecessem a profilaxia e a terapêutica de várias doenças como: “Malária, Doença de Chagas, Leishmaniose, Peste […]”. O curso, com duração de 3 meses e 480 horas/aula, seria ministrado por pessoal do DNERu, além de convidados, como informa jornal da época, “Versiani Caldeira, Hilton Rocha, Noronha Peres, Armando Santos, Madureira Pará e o Casal Deane”. A proposta desses cursos era oferecer uma formação intensiva, mas os planos também incluíam o longo prazo, com a ideia de ofertar curso de Entomologia Médica, e a expectativa de criar, em 1957, Curso Internacional de Esquistossomose.[7]

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Amilcar Martins juntamente com os participantes do curso de endemias rurais. Belo Horizonte, 1958. Imagem: Acervo da Fiocruz Minas.

Ao longo dos anos, os profissionais do Centro estiveram preocupados, não apenas com o aprimoramento técnico e científico dos quadros da saúde, como também com a Educação Sanitária. Nesse campo foi fundamental a atuação de Hortênsia de Hollanda, Chefe da Seção de Educação Sanitária do DNERu. Em 1960, ela presidiu grupo de estudos, integrado, dentre outros, por Marcelo de Vasconcelos Coelho, Chefe do Centro de Pesquisas de Belo Horizonte, sobre os Problemas de Educação Sanitária no país. O grupo preconizava que: “A adesão consciente e voluntária dos indivíduos e dos grupos de população é essencial à sedimentação e progresso dos resultados que podem ser alcançados no combate às endemias rurais”.[8] Em 1970, pesquisadores de diversas áreas se uniram em um projeto que buscou compreender a esquistossomose não apenas no seu aspecto biológico, mas também como problema social, investigando os comportamentos psicossociais de populações afetadas pela patologia para subsidiar ações educativas. Segundo Cornelis J. van Stralen, “Através do Programa Integrado de Controle de Esquistossomose, do Ministério do Planejamento, chegamos em Capim Branco, em 1974. Naftale [Katz] foi um dos coordenadores deste programa nacional, em que testava medicamentos, e Angelina Garcia […] atuava lá como educadora sanitária”.[9] Além disso, o CPqRR se afirmou, historicamente, como um local de excelência nas pesquisas sobre esquistossomose, atraindo pesquisadores de todo o país interessados em estudar o tema, como noticiou um jornal em 1973: “O Centro criou tanto prestígio, que é para ali que acorrem os médicos em busca de especialização”.[10]

Em 1969, o CPqRR e a Universidade Federal de Minas Gerais, realizaram um convênio permitindo o “mútuo intercâmbio entre pesquisadores”,[11] assinado pelo reitor da UFMG, Gerson Boson, e Marcelo Vasconcelos Coelho, diretor do CPqRR. Tal acordo se inseria no contexto de criação do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da universidade, em 1968, e da pós-graduação em Parasitologia, em 1969. Naquele período, muitos pesquisadores que atuavam no Centro de Pesquisas René Rachou também eram professores na UFMG, como Zigman Brener e José Pellegrino. Amilcar Martins, um dos fundadores do ICB e ex-diretor do INERu, foi importante articulador do acordo. Já em 1970, o Boletim do ICB noticiava que “oito teses de alunos do Iº Curso de Pós-Graduação em Parasitologia (1969/70) estão sendo elaboradas com o concurso de diferentes laboratórios do ‘Centro de Pesquisa René Rachou’, INERu-DNERu. Participa, assim, aquele importante centro de investigações biomédicas do esforço ora desenvolvido pelo ICB-UFMG no sentido da formação de novos parasitologistas, cada vez mais reclamados pelas crescentes necessidades nacionais”.[12] Ainda segundo o informativo, quatro trabalhos eram orientados pelo prof. Wilson Mayrink, dois pelo prof. Zigman Brener, um por Roberto Milward de Andrade e um pelo prof. Marcelo de Vasconcelos Coelho, todos pesquisadores vinculados ao CPqRR. Constata-se, portanto, que o Centro atuou de maneira decisiva para a formação dos quadros da parasitologia nacional, contribuindo para a solidificação do programa de pós-graduação do ICB-UFMG, e atuando no campo da educação de forma contínua, mesmo que, naquele momento, não tivesse um programa próprio de pós-graduação.

No ano de 1974 o convênio entre as duas instituições foi ampliado, e seus termos oficialmente caracterizados no Diário Oficial da União: “iniciar e desenvolver pesquisas sobre Endemias Rurais e participar da realização de cursos de Pós Graduação e de especialização de pessoal técnico e profissional no campo das Endemias Rurais”.[13] Pelos termos do convênio, para operacionalização das pesquisas e demais atividades educativas, seria permitido o uso comum das instalações das unidades, “em atividades técnico-científicas e didáticas para propiciar estágios em seus laboratórios e facilitar a elaboração de teses de mestrado e doutorado”.[14] Para o desenvolvimento do acordo não haveria dotação orçamentária, pois cada instituição cederia seus espaços e equipamentos para uso dos profissionais e estudantes envolvidos. Uma Comissão Técnica composta por membros das duas unidades foi designada para acompanhar as atividades, inicialmente integrada por: “Flávio Gomes da Silva, diretor do I.C.B da UFMG; Dr. Naftale Katz, do Centro de Pesquisas René Rachou, da FIOCRUZ; Zigman Brener, Coordenador do Convênio; Fausto Gonçalves de Araújo do ICB, e Aprígio Salgado, da FIOCRUZ”.[15] A validade do acordo era de dois anos, podendo ser prorrogada por termo aditivo. Na época, o convênio foi firmado pelo presidente da Fiocruz, Celso Arcoverde de Freitas, e pelo reitor da UFMG, Eduardo Osório Cisalpino. Nesse período, o CPqRR também recebeu alunos de outras instituições, como da PUC-MG e de unidades da Fiocruz.

 

Instituto René Rachou (IRR)

O Instituto René Rachou estimulou iniciativas internas visando a criação de um ambiente propício ao debate de ideias. No ano de 1985 criou-se o Centro de Estudos – cujo primeiro coordenador foi o pesquisador Álvaro Romanha –, encarregado de organizar seminários semanais sobre as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios e reuniões mensais de aspecto cultural e científico.[16] Os seminários eram ministrados não apenas por pesquisadores, mas também por mestrandos e doutorandos, além de convidados de outras instituições, como: Jérôme Breton, da Université de Compiegne; Eliane Novato Silva, do ICB-UFMG; Jacques Lebbe, da Université Pierre et Marie Curie/Instituto Pasteur – Guiana Francesa, dentre outros.[17]

No fim da década de 1990, os programas de pós-graduação do país precisaram se readequar a exigências de autonomia, de forma que a parceria entre a UFMG e o IRR não pôde continuar nos moldes dos convênios anteriores. Aspectos políticos, relacionadas a disputas no campo científico, acadêmico e institucional, também influenciaram a questão. Como alternativa, ao final da década de 1980, e ao longo dos anos 1990, os pesquisadores do IRR voltaram-se para soluções dentro da Fiocruz, sendo incorporados, como professores e orientadores, pelos programas de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, e de Biologia Parasitária, em funcionamento no Rio de Janeiro, vinculados ao Instituto Oswaldo Cruz.[18] A iniciativa fortaleceu os vínculos internos da Fiocruz e valorizou as expertises regionais na troca de conhecimentos.

Nesse clima de progressivo amadurecimento de iniciativas acadêmicas, o IRR criou, em 1997, o Conselho de Capacitação e Ensino (CCE). A partir de então, mesmo sem abrigar, ainda, um programa de pós-graduação, intensificou-se a oferta de disciplinas, permitindo aos estudantes obterem créditos dentro da própria unidade.[19] Diante da longa experiência acumulada pela Instituição e pelos seus pesquisadores na formação e orientação de estudantes de nível superior, fundou-se em 2002, o Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, ofertando mestrado e doutorado. O programa nasceu com a proposta de estimular a formação prática dos profissionais em uma perspectiva de “aprender fazendo”.[20] A proposta aprovada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, procurou atender à diversidade de pesquisas desenvolvidas na Instituição, concentrando-se em três áreas: Saúde Coletiva, Biologia Celular e Molecular e Doenças Infecciosas e Parasitárias. No ano de 2003 o programa iniciou suas atividades, e a primeira dissertação foi defendida em 2005. Com o desenvolvimento dos trabalhos foram realizados ajustes no sentido de adequar a proposta à realidade dos projetos apresentados, em sua maioria do campo da área biomédica. Atualmente, o programa, avaliado pela CAPES com a nota máxima sete, está vinculado à comissão de Medicina II, com as seguintes áreas de concentração: Biologia Celular e Molecular, genética e bioinformática; Doenças Infecto-Parasitárias e crônicas não transmissíveis e Transmissores de patógenos.[21] A existência, no IRR, de projetos de pesquisa de cooperação internacional foi crucial para a conquista da nota máxima junto à CAPES.

No ano de 2005, o IRR divulgou estudo que visava resgatar e unificar dados históricos sobre os discentes do Instituto. Apesar da inexistência de registros sistemáticos, o levantamento identificou “236 estudantes que, entre 1971 e 2004, concluíram 174 dissertações e 112 teses na Instituição”.[22] Interessante que o estudo expressou a importância da parceria histórica com a UFMG, pois 69,6% dos estudantes estavam matriculados nessa universidade. O Laboratório de Doença de Chagas teve o maior número de teses e dissertações concluídas, 17,8%, mas é importante lembrar que os distintos laboratórios da Instituição foram criados ao longo do tempo, alguns existentes desde 1955, outros fundados décadas depois. Mas a informação é relevante, pois a Instituição sempre contou com pesquisas de ponta e cientistas mundialmente renomados na área de Chagas, o que certamente contribui para a atração de estudantes. O levantamento revelou outros dados interessantes, 67,8% dos ex-estudantes eram mulheres e o curso de graduação mais comum entre os alunos era o de Ciências Biológicas, 51,4%. Segundo o estudo, os egressos enveredaram por diversas carreiras, como a docência universitária e a pesquisa, atuando também “na assistência médica, prestação de serviços ao SUS, farmácias e laboratórios”.[23]

Com o sucesso da experiência, o IRR expandiu a sua rede de educação e ensino. No ano de 2012, diante de demandas interna e externa, fundou-se o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, precedido de acordo formalizado em 2010 pela Fiocruz e a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, por meio da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais.[24] As atividades foram iniciadas em 2013, e o programa conta com as seguintes linhas de pesquisa: Envelhecimento e Saúde; Políticas públicas, programas e serviços de saúde; Saúde e ambiente.[25] Trata-se de um marco importante na história da Instituição, pois ampliou a perspectiva da investigação em saúde para além do prisma biológico, contemplando aspectos sociais e ambientais. A pesquisadora e educadora do IRR, Virgínia Schall, teve atuação fundamental no processo de implantação dessas iniciativas, coordenando, desde o final da década de 1990, trabalhos sobre educação, saúde e ambiente na Instituição, incluindo a fundação do Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente (LAESA), em 2001.[26] Outra realização de destaque da Fiocruz Minas foi a criação, no ano de 2020, do primeiro curso de pós-graduação lato sensu da Instituição, Especialização em Auditoria de Sistemas de Saúde, voltado para a gestão dos serviços públicos de saúde.[27]

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Aula sobre febre amarela, ministrada no Instituto René Rachou, 24 fev. 2017. Acervo: Fiocruz Minas

Mas os investimentos em educação não se restringiram ao nível superior. No ano 1998 a Fiocruz Minas, por iniciativa da pesquisadora Virgínia Schall, instituiu o Programa de Vocação Científica (PROVOC), inicialmente em parceira com o Colégio Técnico da UFMG, que ofertava bolsas de iniciação científica júnior a alunos no ensino médio.[28] Tal programa franqueava o contato dos estudantes com a pesquisa, fomentando desde cedo o interesse pela ciência. Graduandos de diversas instituições também foram estimulados a realizar estágios na Instituição, de modo a aprenderem técnicas e métodos de pesquisa. Os programas variaram ao longo do tempo, ofertando bolsas em parceria com organização de fomento, “CNPq (Pibic – programa de iniciação científica e Pibiti – programa de iniciação tecnológica) e Fapemig (BIC – programa de iniciação científica e BIC JR – programa de iniciação científica júnior)”.[29] O Instituto René Rachou também participa ativamente da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma), projeto educativo da Fiocruz, que fomenta iniciativas sobre essas temáticas nas escolas do país. Virgínia Schall foi uma das idealizadoras da Olimpíada.[30]

Para dar suporte aos estudantes e pesquisadores, o IRR possui a Biblioteca de Ciências da Saúde Prof. Zigman Brener, onde podem ser realizadas consultas e pesquisas em livros, periódicos, teses e outros materiais, organizados em catálogo on-line.[31] Na sua estrutura organizacional, o IRR possui uma Vice-diretoria de Ensino, que agrega múltiplas funções, desde a organização burocrática da gestação educacional, até o fomento e a expansão de inúmeras iniciativas ligadas à pós-graduação, iniciação científica, divulgação científica, parcerias com instituições de ensino nacionais e internacionais, etc.

O Instituto René Rachou também atua na formação dos quadros técnicos e profissionais do SUS, por meio dos seus Serviços de Referência. O setor de Referência Nacional em Doença de Chagas – Laboratório de Triatomíneos e Epidemiologia da Doença de Chaga, capacita técnicos e médicos para atuar na identificação e diagnóstico da doença, e produz material didático sobre o assunto. O Laboratório de Helmintologia e Malacologia Médica – Referência Nacional em Esquistossomose, treina profissionais para atuarem nos Serviços de Vigilância em Saúde. Os Centro de Referência Nacional e Internacional para Flebotomíneos, Centro de Referência em Competência Vetorial de Flebotomíneos (CRCV) e Centro de Referência em Leishmanioses (CRL), capacitam pessoal da saúde para identificação dos vetores, dentre outras atividades de formação.[32]

Na especificidade de cada contexto histórico e em diferentes fases administrativas, a Fiocruz Minas sempre se apresentou como uma instituição aberta a pesquisadores de várias partes do Brasil e do mundo, provenientes dos mais diversos centros de investigação e de níveis de formação diversos. Assim, o IRR, além de centro de pesquisa, afirmou-se como escola, prestando sólidos serviços à educação brasileira, com destaque para a pós-graduação, cujas atividades, em parceria com a UFMG, remontam ao fim da década de 1960. Importante recordar que a estrutura do atual IRR existia desde 1955, portanto, antes da criação do ICB-UFMG (1968). A organização administrativa da época permitia que os profissionais fossem vinculados a mais de uma instituição, e muitos pesquisadores do Centro também trabalhavam no ICB. Como o programa de pós-graduação em Parasitologia do ICB foi fundado em 1969, faltava, nessa fase inicial, consolidar condições físicas, de pessoal e suporte para pesquisas de campo.[33] A solução foi estabelecer parceria com o IRR, Instituição mais antiga, em busca de melhor estrutura.

Podemos supor que, pelo fato dos cientistas mais antigos do IRR exercerem docência na UFMG, isso possa ter adiado a necessidade do Instituto de ter uma pós-graduação própria, já que as orientações e o desenvolvimento das pesquisas eram facilitados pelo partilhar desses vínculos institucionais. Com o passar dos anos, e a progressiva aposentadoria dos profissionais que trabalhavam nas duas instituições, cresceu a percepção de que a Fiocruz Minas precisava investir em um sistema próprio de ensino.

O marco de 2002, momento de criação da pós-graduação do IRR, representa a autonomia e a sistematização dos projetos educacionais da Instituição, mas o fato é que ela já atuava, há muito tempo, como polo de estudos, atraindo alunos e profissionais da saúde de várias áreas do conhecimento e de diferentes centros de pesquisa e esferas administrativas, aprimorando constantemente suas práticas científicas, de formação e educativas.

 

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenadores: Dr.ª Zélia Maria Profeta da Luz; Dr. Roberto Sena Rocha.

Historiadora: Dr.ª Natascha Stefania Carvalho De Ostos.

 

Texto de: Natascha Stefania Carvalho De Ostos – Doutora em História

 

[1] BRASIL. Lei nº 2.743, 6 mar. 1956. Cria o Departamento Nacional de Endemias Rurais no Ministério da Saúde e dá outras providências. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2743-6-marco-1956-355164-publicacaooriginal-1-pl.html>.
[2] AZEVEDO, Nara; FERREIRA, Luiz Otávio. Os dilemas de uma tradição científica: ensino superior, ciência e saúde pública no Instituto Oswaldo Cruz, 1908-1953. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  v. 19, n. 2, p. 581-610,  jun. 2012 .
[3] CHAVES, Bráulio Silva. Os primeiros tempos. A ciência e a cidade moderna. In: STARLING, Heloísa; GERMANDO, Lígia, MARQUES, Rita de Cássia. Fundação Ezequiel Dias. Um século de promoção e proteção à saúde. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007, p. 63.
[4] O problema anti-ophidico. O Paiz, Rio de Janeiro, n. 15.040, 24 dez. 1925, p. 1.
[5] CHAVES, Bráulio Silva. Ibidem, p. 64.
[6] MAGALHÃES, Octávio De. Ensaios. Belo Horizonte: Ed. Faculdade de Direito de Minas Gerais, 1957, p. 208, p. 262, p. 286.
[7] Desde a malária ao tracoma. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 230, 03 out. 1956, p. 12.
[8] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Problemas de Educação Sanitária. In: Combate a Endemias Rurais no Brasil. (Relatórios dos Grupos de Trabalho reunidos em 1960 na cidade do Rio de Janeiro). Departamento Nacional de Endemias Rurais, DNERu. Guanabara, 1962, p. 67.
[9] COSTA, Frederico Alves; MACHADO, Frederico Viana. Para além das fronteiras disciplinares: trajetória acadêmica e política de Cornelis Johannes van Stralen. Rev. psicol. polít.,  v. 18, n. 42, p. 399-427, ago.  2018.
[10] Diário de Notícias. Rio de Janeiro, n. 15.443, 25 fev. 1973, p. 9.
[11] MARTINS, Amilcar Vianna. A história do Centro de Pesquisas “René Rachou”. Depoimento pessoal. In: Centro de Pesquisas René Rachou. Comemoração dos 25 anos de existência. Fundação Oswaldo Cruz. Belo Horizonte, 1980, p. 11.
[12] UFMG. Boletim Informativo do Instituto de Ciências Biológicas, Belo Horizonte, ano II, jun. 1970, n. 10, p. 2.
[13] BRASIL. Fundação Instituto Oswaldo Cruz. In: Diário Oficial da União, seção I, parte I, dez. 1974, p. 13.724(?).
[14] Idem.
[15] UFMG. Boletim Informativo do Instituto de Ciências Biológicas, Belo Horizonte, n. 76, 25 nov. 1974, p. 1.
[16] FIOCRUZ. Boletim Informativo Centro de Pesquisas René Rachou. Belo Horizonte, ano 1, n. 3, ago. 1985, p. 4.
[17] FIOCRUZ. Boletim Informativo Centro de Pesquisas René Rachou. Belo Horizonte, ano 1, n. 11, abr. 1986, p. 3.
[18] FIOCRUZ. Disponível em: <https://pgbcm.ioc.fiocruz.br/hist%C3%B3rico>; <https://pgbp.ioc.fiocruz.br/hist%C3%B3rico>.
[19] FIOCRUZ. Centro de Pesquisas René Rachou. A Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fiocruz Minas, 2000, p. 38.
[20] CAMPOS, Vânia M. C. de; MAGALHÃES, Segemar Oliveira; ROCHA, Roberto Sena. Panorama da formação pós-graduada no Centro de Pesquisa René Rachou da FIOCRUZ no período de 1971 a 2004. FIOCRUZ, Centro de Pesquisas René Rachou, 2005, p. 2. Disponível em:

< http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_317310411.pdf>.
[21] FIOCRUZ. Instituto René Rachou. Pós-graduação em Ciências da Saúde. Disponível em:

< http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/pos-graduacao-em-ciencias-da-saude/>.
[22] CAMPOS, Vânia M. C. de; MAGALHÃES, Segemar Oliveira; ROCHA, Roberto Sena. Ibidem, p. 2.
[23] Idem, p. 7.
[24] FIOCRUZ. Instituto René Rachou. Histórico. Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde. Disponível em: <http://qoppa.cpqrr.fiocruz.br/posgraduacao/cienciasdasaude/o-programa/apresentacao/historico/>.
[25] FIOCRUZ. Instituto René Rachou. Apresentação. Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva. Disponível em: < http://qoppa.cpqrr.fiocruz.br/posgraduacao/saudecoletiva/o-programa/apresentacao/>.
[26] SCHALL, Virgínia Torres. Currículo Lattes. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/1247570488977577>.
[27] FIOCRUZ. Fiocruz Minas vai oferecer curso de pós-graduação lato sensu. Disponível em:

<http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/fiocruz-minas-vai-oferecer-curso-de-pos-graduacao-lato-sensu/>.
[28] ARANTES, Shirley de Lima Ferreira; PERES, Simone Ouvinha. Programas de iniciação científica para o ensino médio no Brasil: educação científica e inclusão social. Pesqui. prát. Psicossociais,  v. 10, n. 1, jun.  2015, p. 45-46; PIMENTA, Denise; VALENTE, Polyana. Alguns apontamentos biográficos: quem foi Virgínia Schall?. In: MONTEIRO, Simone (Org.). Ciência, saúde, educação: o legado de Virgínia Schall. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018, p. 462; FIOCRUZ. Centro de Pesquisas René Rachou. A Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fiocruz Minas, 2000, p. 36-37.
[29] FIOCRUZ. Regulamento. Programa de Iniciação Científica – Instituto René Rachou – Fiocruz/Minas. Disponível em: < http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/wp-content/uploads/2013/05/regulamento-pic.pdf>.
[30] PIMENTA, Denise; GRUZMAN, Carla; REIS, Débora. A educação em saúde e a divulgação científica sob o olhar integrador de Virgínia Schall. In: MONTEIRO, Simone (Org.). Ciência, saúde, educação: o legado de Virgínia Schall. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018, p. 33.
[31]FIOCRUZ. Instituto René Rachou. Biblioteca de Ciências da Saúde
Prof. Zigman Brener. Disponível em: <http://phl.cpqrr.fiocruz.br/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl82.xis&cipar=phl82.cip&lang=por>.
[32] FIOCRUZ MINAS. Serviços de Referência. Disponível em: < http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/servicos-de-referencia/>.
[33] KATZ, Naftale. Naftale Katz (depoimento, 2019). [Entrevista concedida a Natascha Stefania Carvalho De Ostos e Roberto Sena Rocha]. Belo Horizonte, 30 out. 2019, 30 p..