Saúde Coletiva: doutoranda do IRR conquista Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2021

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Apresentando resultados que podem contribuir para melhorar a saúde dos idosos no Brasil, a pesquisa desenvolvida pela enfermeira Juliana Mara Andrade, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do IRR, conquistou o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2021. A premiação, concedida anualmente pela Fundação, é um reconhecimento aos trabalhos de elevado valor para os avanços do campo da saúde nas diversas áreas temáticas da instituição.

O trabalho premiado foi o primeiro estudo do Brasil a estimar a prevalência de fragilidade na população do país com 50 anos ou mais e a investigar a associação entre fragilidade e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), verificando, também, se a funcionalidade familiar, ou seja, a capacidade da família em oferecer cuidados ao idoso, influencia nessa associação. Além disso, a pesquisa foi pioneira em estimar a expectativa de vida usando a QVRS, medida multidimensional e subjetiva de saúde mental e física.

“Tanto no Brasil como em outros países, os estudos sempre estiveram focados em medidas mais tradicionais, voltadas para fatores objetivos, como ter deficiência, ter doença ou alguma limitação de capacidade. Neste estudo, fizemos uma avaliação baseada em aspectos subjetivos, relacionados à percepção que os idosos têm sobre sua qualidade de vida, pois entendemos que saúde é um conceito que vai muito além da ausência de doenças”, explica a autora da tese.

Para estimar a prevalência de fragilidade e avaliar os fatores associados na população brasileira (não institucionalizada) com 50 anos ou mais, a pesquisa analisou dados de 8.556 participantes, coletados por meio do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), entre 2015 e 2016. A fragilidade foi definida com base em atributos, conhecidos como critérios de Fried, que considera cinco características: perda de peso, fraqueza, redução de velocidade de marcha, exaustão e baixo nível de atividade física. Os participantes com três ou mais desses atributos foram classificados como frágeis. A análise, realizada por meio de modelos estatísticos, incluiu ainda outras variáveis, como características sociodemográficas e condições de saúde.

Os resultados mostraram que a síndrome da fragilidade afeta muitos idosos brasileiros e que os fatores mais fortemente associados a essa síndrome foram as piores condições de saúde, a limitação funcional e a baixa escolaridade. “Nossos resultados também confirmam a hipótese de que a fragilidade é uma condição distinta associada à desregulação fisiológica e que doenças crônicas e limitações funcionais nem sempre são sinônimos de fragilidade”, afirma Juliana.

Fragilidade e qualidade de vida- Para avaliar a associação entre fragilidade e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) nos idosos, ao longo dos anos, e examinar se o suporte familiar interfere nessa associação, a pesquisa se valeu de dados coletados pelo Estudo de Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), realizado em São Paulo, com adultos de 60 anos ou mais, entre 2006 e 2016. Por meio de ferramentas específicas para cruzamento de dados, foi possível estabelecer a relação entre a fragilidade, também considerando os critérios de Fried, e o apoio familiar, mensurado por meio de um instrumento conhecido como APGAR, que verifica aspectos como adaptação, companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade de resolução.

Os resultados mostraram que a fragilidade foi um fator determinante para a redução da qualidade de vida, tanto em aspectos físicos como mentais. Além disso, as análises constataram que o suporte familiar impacta positivamente na qualidade de vida dos idosos, especialmente nos componentes relacionados à saúde mental.

“Além de demonstrar que a fragilidade impacta negativamente na qualidade de vida, nossos resultados também chamam a atenção para a importância do apoio da família e das relações sociais. Isso mostra a necessidade de haver políticas públicas que possam oferecer formas de apoiar as famílias que cuidam de idosos”, enfatiza a autora.

Outro importante resultado obtido por meio da pesquisa se refere à estimativa da expectativa de vida com qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) ruim. Para esta avaliação, também foram utilizados dados coletados pelo SABE, referentes a condições de vida, status socioeconômico, medidas antropométricas e saúde geral, no período entre 2006 e 2016.

As análises apontaram que a expectativa de vida aumentou, passando de 69,7 anos, em 2006, para 70,4 anos, em 2016. Esse aumento se deu com QVRS ruim, tanto em aspectos físicos como mentais. De acordo com o estudo, as mulheres vivem mais que os homens, mas mais anos com pior qualidade de vida, e esta degradação da melhor qualidade de vida pode piorar ao longo do tempo.

Para a autora da tese, todas essas constatações oferecem uma contribuição única para a compreensão dos aspectos do envelhecimento saudável. O trabalho de excelência que pode ser realizado é, segundo ela, fruto de todo o suporte e apoio recebido por parte da instituição, de todo o corpo docente e, principalmente, de suas orientadoras Fabíola Bof Andrade e Flávia Cristina Drummond Andrade.

“Essa premiação é, portanto, uma forma de honrar a dedicação de todas essas pessoas. Agradeço especialmente às minhas orientadoras, que me abriram muitas portas e sempre me propuseram desafios que sabiam que eu poderia encarar”, afirma. “O prêmio é, sem dúvida, resultado de um trabalho sério desenvolvido ao longo de quatro anos. Consegui concluir a tese com três artigos publicados e considero que essa premiação fecha com chave de ouro esse ciclo do doutorado. Estou muito feliz”, diz.

Intitulada “Efeito da síndrome da fragilidade na qualidade de vida relacionada à saúde e o papel desta condição na expectativa de vida de idosos não institucionalizados”, a tese está disponível no Repositório Arca, da Fiocruz. Os três artigos gerados pela tese podem ser encontrados nas seguintes publicações: Archives of Gerontology and Geriatrics; Quality of Life Research; e Revista de Saúde Pública.