Dengue, chikungunya e zika são temas de aula inaugural na Fiocruz Minas

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A tríplice epidemia: desafios para a sociedade e oportunidades para a pesquisa foi o tema da aula inaugural dos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Saúde Coletiva da Fiocruz Minas, realizada nesta quarta-feira (16/3), no auditório da unidade. O médico Rivaldo Venâncio da Cunha, diretor da Fiocruz Mato Grosso do Sul e colaborador da Organização Mundial de Saúde (OMS), traçou um panorama das arboviroses dengue, chikungunya e zika no país, mostrando aos estudantes a dimensão do desafio que essas doenças impõem a governos e à sociedade.

“Sem dúvida, trata-se de um problema sem solução para curto prazo. E, para começarmos a ter algum tipo de resposta, será necessário lançar mão de novas ferramentas. Os métodos que vêm sendo empregados são do tempo de Oswaldo Cruz e, para a estrutura que temos hoje, são ineficazes”, destacou.

Segundo o pesquisador, a urbanização desordenada e a alta densidade populacional dificultam as atuais formas de controle do vetor. Somam-se a isso o excesso de lixo gerado, que não contam com uma correta destinação, além do abastecimento irregular de água.

“É claro que se a pessoa não recebe água pelos sistemas adequados, ela terá que fazer o armazenamento, que nem sempre será da forma apropriada. A cidade de São Paulo, por exemplo, que vive uma crise hídrica, tem registrado um número cada vez maior de casos dessas três doenças relacionadas ao Aedes”, comentou.

A reorganização da rede de atenção à saúde, segundo Rivaldo, é outro aspecto que precisa ser repensado. Para ele, muitas mortes provocadas por dengue podem ser evitadas, se houver um atendimento mais eficiente. Além disso, essa rede de atenção deve ser preparar para oferecer solidariedade às famílias vítimas da zika congênita, que deixa sequelas para o resto da vida. Além disso, de acordo com o pesquisador, a sociedade civil precisa ser estimulada a agir.

“Temos relatos de agentes de endemia que dizem chegar às residências para vistoriar as casas e encontram um morador que sequer se levanta para avaliar os focos junto com ele. Isso é resultado de ações paternalistas, que colocam o poder público como o grande solucionador, mas que não deram certo”, avaliou. “Precisamos reconhecer que a solução definitiva está fora do setor saúde.”

Dicas de veterano- Rivaldo também lembrou os alunos da pós-graduação de que, ao estudarem, é importante recorrer a fontes primárias. Ele contou que o segundo artigo sobre zika publicado no mundo, ainda na década de 50, já mencionava os comprometimentos neurológicos que poderiam ser provocados pela doença. Para os estudantes, Rivaldo também apontou algumas oportunidades de pesquisa.

“Em relação à dengue, precisamos de pesquisas relacionadas à forma grave da doença, bem como sobre as perspectivas de mudança de perfil etário e ainda as que se referirem à introdução da vacina. Sobre a chikungunya, são necessários estudos voltados para testes de diagnóstico, para a qualidade de vida do paciente e para as alternativas terapêuticas para os doentes crônicos. No que diz respeito à zika, quase tudo ainda está por conhecer”, resumiu.