Dílcia Maria Repetição

Dilcia

Dílcia Maria. Foto: Cláudia Gersen

 

Nascida em Itapecerica, Minas Gerais, Dílcia Maria Repetição mudou-se para Belo Horizonte para trabalhar em casa de família. Incentivada pelos patrões completou o segundo grau profissionalizante, formando-se em Patologia Clínica. No colégio ela conheceu e tornou-se amiga de Sueleny Teixeira, que trabalhava no Instituto René Rachou e indicou-a para uma vaga na instituição, no começo da década de 1980. Inicialmente ela recebia bolsa como remuneração.

Suas atividades eram variadas, abrangendo limpeza geral e de materiais no Moluscário, sob a coordenação da pesquisadora Cecília Pereira de Souza. Logo Dílcia passou a desempenhar essas funções em outros laboratórios. Após 5 anos como bolsista ela foi contratada e hoje é servidora do IRR. Segundo a funcionária, antigamente a estrutura da Fiocruz Minas era precária. Não existiam trabalhadores terceirizados, de modo que a limpeza era difícil, faltando insumos como luvas, máscaras e até panos de chão. Os aquários que abrigavam os caramujos eram de vidro e eventualmente se partiam, ferindo as mãos dos trabalhadores. Dílcia conta que ela passou a trabalhar na criação de caramujos, atividade que desempenha até hoje, além de lavar, montar, esterilizar materiais e organizar o laboratório.

Em toda sua trajetória ela se recorda com muito carinho do pesquisador Álvaro Romanha, por seu tratamento humanizado. Dílcia costumava levar o filho Pedro ao IRR, em festas ou quando não tinha com quem deixá-lo, e a criança gostava de estudar e ler os materiais fixados nas paredes da instituição, o que chamou a atenção de Romanha, que considerou a criança especial. Outra pessoa a quem Dílcia devota gratidão é a pesquisadora Ana Rabelo, que segundo a funcionária salvou-a em momento em que estava passando mal, encaminhando-a para o hospital e prevenindo consequências piores.

Uma das características de Dílcia é sua gratidão por todos que a auxiliaram ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. Além dos já citados, também recorda dos pesquisadores Rodrigo Corrêa e Cecília, e de modo especial Lângia Montresor, por sua preocupação com o bem-estar dos funcionários. Também cita as colegas Luciana Silami e Sueleny Teixeira, a quem chama de “grande amiga do coração”.

Dílcia destaca que sua vida profissional se entrelaça com a familiar, e considera fundamental nomear seus afetos. As afilhadas Fabiane e Christiane, a irmã Maria e tantos outros familiares e amigos que com ela estiveram nos bons e maus momentos. A funcionária destaca que por vezes tem vontade de se aposentar, mas reluta, pois não deseja ficar apenas em casa. Ela também pondera que o ambiente de trabalho no IRR melhorou muito, de modo que ela se sente estimulada a continuar.

Para Dílcia, o momento mais marcante que viveu no IRR foi a sua contratação, que lhe possibilitou, ao longo de mais de 30 anos, sustentar sua família com dignidade, e criar seu filho, do qual tem muito orgulho, e que hoje é formado em medicina.

Dílcia pediu ao Projeto Memória para complementar sua entrevista por meio de um relato escrito de próprio punho, onde expressou suas experiências. Nas palavras escritas por ela: “Tudo isto que se aflora na minha memória traz uma grande alegria ao meu coração. Ser o que sou hoje. Certeza de dever cumprido, paz na alma. Obrigada Fiocruz!”.

 

 

Texto: Natascha Ostos

Entrevistadora: Cláudia Gersen

Apoio:

– Direção IRR

– Projeto Fiocruz Minas, patrimônio do Brasil: História, memória, ciência e comunidade

Agradecimentos: Dílcia Maria Repetição, pela entrevista concedida no dia 25/09/2023.