Fiocruz Minas recebe equipe da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência

foto Rivaldo

A Fiocruz Minas recebeu, nos dias 11 e 12 de maio, a visita do coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, e das assessoras técnicas Marília Santini e Tânia Fonseca. O objetivo foi discutir propostas de trabalho e ações a serem realizadas pelo IRR, juntamente com a Coordenação. Durante o encontro, Rivaldo falou sobre os impactos causados pela pandemia de Covid-19 no Brasil e fez um balanço da atuação da Fiocruz no enfrentamento da emergência sanitária.

“A mensagem que quero deixar para vocês hoje é para a gente não se deixar abater. Vivenciamos a pandemia, que foi mais sofrida para os brasileiros, porque tivemos várias crises ao mesmo tempo. A crise sanitária já existia antes e foi aprofundada pela Covid-19. Já existia antes um subfinanciamento do SUS, já havia dificuldades em várias regiões do Brasil, quando chega a Covid e se transforma em uma tragédia”, disse o coordenador.

Rivaldo destacou que o país também enfrentou, juntamente com a crise sanitária, uma crise econômica.  Segundo o coordenador, a pandemia mostrou que, no Brasil, há milhões de famílias vivendo em sub-habitações, uma situação que já ocorre há anos, mas foi evidenciada quando a principal recomendação para os brasileiros era que ficassem em casa para evitar aglomerações.

“Vivemos um apartheid social. Há milhões de famílias, com várias pessoas, vivendo em casas de três cômodos. Além disso, milhões de desempregados e subempregados, vivendo em condições precárias”, ressaltou.

Mas não foi só isso que fez a pandemia ser mais sofrida no Brasil. Segundo Rivaldo, o país viveu uma crise política durante esses dois anos de emergência sanitária, que teve efeitos bastante negativos para todo o sistema de saúde: foram quatro trocas de ministros da saúde e uma ausência de coordenação nacional, fazendo com que programas reconhecidos no mundo inteiro como bem-sucedidos, como o Programa Nacional de Imunização, começassem a ter dificuldades de atuar de forma eficiente.

“E tivemos ainda uma outra crise: a crise de valores éticos, gerando um discurso anticiência, com o mandatário do país defendendo kit Covid para tratamento precoce, que não funciona. Mas precisamos refletir: se teve esse tipo de repercussão, com profissionais da área médica fazendo essa defesa, é porque algo está errado e nós precisamos pensar sobre isso: que profissionais estamos formando? O aparelho formador precisa ser revisto”, avaliou.

Atuação da Fiocruz- Rivaldo recomendou ainda que os trabalhadores do IRR fizessem um exercício de imaginar como teria sido a pandemia no Brasil sem a Fiocruz. Ele destacou que não houve uma única área em que a Fundação não tenha atuado. No diagnóstico, a Fiocruz desenvolveu, fabricou e distribuiu kits pelo país inteiro; promoveu capacitações, treinamentos para países vizinhos; posteriormente, além de fabricar, passou a fazer a testagem. Na área da assistência, construiu um hospital no campus e ofereceu uma série de cursos.

No que se refere à vacina, Rivaldo lembrou que, ainda no início da pandemia, a Fiocruz fez toda uma prospecção de laboratórios e instituições que tinham iniciativas já em andamento, buscando a melhor solução para o país e ainda convenceu o governo a fazer o investimento.

Já na comunicação com a sociedade, o coordenador destacou a presença constante de pesquisadores da instituição em veículos de imprensa, informando diariamente a população. Ressaltou ainda a atuação do Observatório Covid, com seus boletins semanais que serviram de referência para os gestores, e também a atuação da Rede Genoma, com suas relevantes contribuições. “É importante que cada trabalhador da Fiocruz se sinta parte desse processo. Cada um aqui, deu sua contribuição”, afirmou.

De acordo com Rivaldo, é provável que ainda ocorram repiques de casos, ao que tudo indica mais menos graves, graças à vacina e à dose de reforço.

Para finalizar, o coordenador falou sobre a crise política, que tende a se aprofundar este ano, devido às eleições. Para Rivaldo, é importante que a sociedade saiba conviver com opiniões diferentes, pois é assim que vamos crescer.

“Nós não temos o direito de brigar entre nós. É importante ter um horizonte de valores, de forma a construir uma sociedade menos desigual. Esses valores têm que nortear nossa vida, para que se possa olhar e ter a consciência de que a gente viveu momentos difíceis e que demos a nossa contribuição. E, se a gente não está deixando o Brasil que sonhou, pelo menos, não nos omitimos. A gente fez a nossa parte”, concluiu.

Durante os dois dias no IRR, os visitantes também se reuniram com as equipes do Serviço de Referência e da Rede Genômica. Todos tiveram a oportunidade de falar sobre a atuação dos serviços, bem como sobre a perspectiva para as atividades da vigilância em saúde no IRR e na Fiocruz.