Geraldo Chaia

Geraldo

Geraldo Chaia Imagem: recorte de fotografia do acervo de Marcello Vasconcellos Coelho. Cedida por Beatriz Coelho.

A cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, além de importante polo econômico do período colonial, tem um papel relevante na história da formação intelectual brasileira. A cidade abrigou, desde o século XIX, centros de formação superior, como a Escola de Farmácia. Muitos estudantes chegavam de outras cidades do estado e do país, e para abrigar esses jovens foram criadas residências chamadas Repúblicas, moradias compartilhadas e administradas por alunos matriculados nas faculdades da cidade. Geraldo Chaia, nascido na localidade de Rio Doce, Minas Gerais, em 1929, foi um desses estudantes. Acadêmico do curso de Farmácia, ele integrava a República Arca de Noé, fundada em 1927.[1] Formado em farmácia pela Faculdade de Farmácia de Ouro Preto, em 1953, a turma de Geraldo Chaia teve como paraninfo o médico e farmacêutico (graduado na referida faculdade), Mário Pinotti.[2] A rede de sociabilidade que congregava estudantes e ex-estudantes das faculdades ouropretanas era muito forte. Naquele momento Pinotti era chefe do Serviço Nacional de Malária, e tendo em vista a carência de pessoal, ele contratou, segundo Paulini, “toda a turma de recém-diplomados da Escola de Farmácia de Ouro Preto”;[3] incluindo Geraldo Chaia e seu colega José Pedro Pereira, futuros pesquisadores do Instituto René Rachou.

Chaia ingressou no serviço público em 1954, na função de epidemiologista do Instituto de Malariologia, órgão de pesquisa sobre doenças e endemias, que funcionava no Rio de Janeiro. Em 1955 o farmacêutico estagiou no Instituto Aggeu Magalhães, com o pesquisador Frederico Simões Barbosa.[4] No mesmo ano mudou-se para Belo Horizonte, tendo em vista a transferência do Instituto de Malariologia para a capital mineira, que em 1956 passou a integrar a estrutura do Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu), com a denominação de Centro de Pesquisas de Belo Horizonte (CPBH). O pesquisador realizou doutorado na cadeira de zoologia da Faculdade de Farmácia de Ouro Preto, e com essa formação ele foi redesignado, em 1960, para o cargo de zoólogo.[5] Já nesse período, Chaia era professor da Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais,[6] tendo sido também professor adjunto de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da mesma universidade.[7]

Em 1964 foi definitivamente enquadrado como farmacêutico do Centro de Pesquisas de Belo Horizonte. No mesmo ano recebeu bolsa de estudos da Organização Mundial da Saúde, realizando 6 meses de estágio na Universidade de Tulane e no Walter Reed Hospital, nos Estados Unidos.[8] Participou, juntamente com o químico Ernest Paulini, da experimentação de produtos eficazes contra planorbídeos, para o combate à esquistossomose.[9] Também pesquisou a profilaxia e o tratamento da estrongiloidíase, doença causa por parasita intestinal.[10] Em 1965 realizou inquérito cropológico sobre a doença, investigando tratamentos com tiabendazol, além de realizar coleta de amostras nas cidades mineiras de Governador Valadares e Galileia. No mesmo ano foi designado pelo INERu para trabalhar na avaliação terapêutica e epidemiologia de helmintoses no município de Pains; em 1968 nas cidades de Várzea da Palma e Lassance; e em 1969 em Itanhomi, todas cidades de Minas Gerais.[11] Nesse momento o CPBH já se chamava Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR). Chaia foi chefe do antigo Laboratório de Parasitoses Intestinais do Centro,[12] investigando aspectos etiológicos, epidemiológicos, profiláticos, diagnósticos e terapêuticos de endemias. No ano de 1968 o pesquisador participou do VIII Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, em Teerã, no Iran.[13]

Entre 1970 e 1972, Geraldo Chaia requereu licença sem vencimentos do CPqRR, e logo depois pediu exoneração da função pública, concedida em 1973.[14] Seu desligamento deveu-se ao fato dele ter sido convidado, e aceito, criar e comandar o Centro de Pesquisas Johnson & Johnson, destinado à pesquisa de doenças endêmicas, inaugurado em julho de 1971 na cidade de São José dos Campos, São Paulo.[15] Ali o cientista continuou sua carreira. Em 1975 publicou a obra Atlas da Parasitologia.[16] Em 1976 recebeu o Prêmio Philip B. Hofmann, concedido pelo conselho de diretores de pesquisa da Johnson & Johnson, nos Estados Unidos.[17] No ano de 1977 foi agraciado com o Prêmio “Tendência”, na categoria Pesquisa.[18]

Como professor da UFMG formou muitos estudantes, inclusive o pesquisador da Fiocruz Minas, Omar dos Santos Carvalho. Continuou sua atividade docente em São Paulo, atuando, no início da década de 1980, como professor colaborador da pós-graduação do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.[19] Falecido em 2016, Geraldo Chaia foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e da Sociedade Brasileira de Parasitologia,[20] e continua sendo referência histórica importante para a comunidade científica nacional.

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenador: Dr. Roberto Sena Rocha.

Texto de: Natascha Stefania Carvalho De Ostos – Historiadora

[1] MACHADO, Otávio Luiz. Repúblicas Estudantis de Ouro Preto e Mariana: Percursos e Perspectivas (edição especial).  Frutal: Prospectiva, 2014, p. 21; REPÚBLICA Arca de Noé. História. Ex-moradores. Disponível em: < https://republicaarcadenoe.com.br/historia/>.

[2] A Gazeta da Pharmacia, Rio de Janeiro, n. 260, dez. 1953, p. 9.

[3] PAULINI, Ernest. O passado revisitado: o Instituto de Malariologia e o Instituto de Endemias Rurais (INERu). Hist. cienc. saude-Manguinhos, vol. 11(1), jan.-abr. 2004, p. 151-152.

[4] COELHO, Beatriz Ramos de Vasconcellos (depoimento, 2021). [Entrevista concedida a Natascha Stefania Carvalho De Ostos]. Belo Horizonte, 08 abr. 2021.

[5] FIOCRUZ. Documentos internos.

[6] BRASIL. Diário Oficial da União, seção I, parte, II, 23 jan. 1962, p. 204.

[7] A Gazeta da Farmácia, Rio de Janeiro, n. 528, abr. 1976, p. 10.

[8] BRASIL. Diário Oficial da União, seção I, parte, I, 30 jul. 1964, p. 6.781.

[9] PAULINI, Ernest; CHAIA, Geraldo; FREITAS, José. Experimentos com lós moluscocidas Rhodiacid y Bayer 73. Boletín de la Oficina Sanitaria Panamericana (OSP); 53(4), oct. 1962, p. 330-334.

[10] Ciência e Cultura, São Paulo, vol. 16, n. 3, set. 1964, p. 286.

[11] FIOCRUZ. Documentos internos.

[12] FIOCRUZ MINAS; OSTOS, Natascha. Omar dos Santos Carvalho – 50 anos de dedicação à Fiocruz Minas. Disponível em: <http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/omar-dos-santos-carvalho-50-anos-de-dedicacao-a-fiocruz-minas/>.

[13] FIOCRUZ MINAS. Disponível em: < http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/causos-da-ciencia-foi-assim-que-tudo-aconteceu/>.

[14] FIOCRUZ. Documentos internos.

[15] Correio do Povo, Jaraguá do Sul, n. 2.599, 05 set. 1970, p. 1; O Jornal, Rio de Janeiro, n. 15.283, 24 jul. 1971, p. 7.

[16] CHAIAGeraldoAtlas de Parasitologia. São Paulo: Johnson & Johnson, 1975.

[17] A Gazeta da Farmácia, Rio de Janeiro, n. 528, abr. 1976, p. 10.

[18] A Gazeta da Farmácia, Rio de Janeiro, n. 541, maio 1977, p. 17.

[19] MEC. Parecer 04/81, anexo V, s./p.. Disponível em:

< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cd010258.pdf>.

[20] SBMT. Disponível em: <http://www.sbmt.org.br/portal/socios-fundadores/>; SBP. Disponível em:

< https://www.parasitologia.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=406>.