O grupo Violências, Gênero e Saúde, da Fiocruz Minas, concluiu recentemente uma série de formações antirracistas voltadas para trabalhadoras e trabalhadores da rede de atendimento às mulheres em situação de violência, em Belo Horizonte. Ao todo, foram capacitados 120 profissionais, vinculados à Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) e à Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
“Em uma pesquisa realizada pelo nosso grupo, entre 2019 e 2021, analisamos a situação das redes de enfrentamento à violência contra as mulheres em Minas Gerais e constatamos que a dimensão da raça/cor não estava sendo considerada nos atendimentos. Os profissionais não estavam preparados para acolher as mulheres negras; faltava um olhar para todas as diferentes questões relacionadas à raça que elas traziam. As capacitações surgem, então, a partir de uma demanda dessa rede, entendendo que o atendimento que não leva em consideração a dimensão racial fica incompleto, não é integral”, explica a pesquisadora Paula Bevilacqua, líder do grupo Violências, Gênero e Saúde e coordenadora do projeto de capacitações.
Entre dezembro de 2023 e julho de 2024, houve três turmas. Pela SMASAC, participaram profissionais de unidades do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), equipamento que compõe a proteção básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O grupo foi composto por assistentes sociais e psicólogas, além de gestoras do âmbito da proteção básica. Já da área da saúde, as turmas contaram com representantes da Subsecretaria de Atenção à Saúde (SUASA), Subsecretaria de Promoção e Vigilância à Saúde (SUPVISA) e Assessoria de Educação em Saúde (ASEDS). Participaram também referências técnicas das áreas de saúde do trabalhador, saúde sexual, doenças crônicas e agravos não transmissíveis da Gerência de Assistência, Epidemiologia e Regulação das nove diretorias regionais de saúde de Belo Horizonte.
Cada turma participou de sete encontros, com três horas de duração cada um deles. As formações envolveram seminários e oficinas que discutiram temas como branquitude, necropolítica, história do Brasil a partir de um olhar afrocentrado, interseccionalidade, trabalho em rede e atendimento interseccional. “O trabalho foi de sensibilizar e trazer essa dimensão racial para o contexto do atendimento às vítimas de violência, levando os profissionais a refletirem sobre as complexidades que a questão racial apresenta”, afirma Bevilacqua.
As tratativas para a continuidade das formações estão em andamento, e outras duas turmas devem ser iniciadas em breve.