Teresinha Batista Simões

 

 

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Terezinha Batista Simões. Foto: Cláudia Gersen – Fiocruz Minas

 

Dona Teresinha “do “Instituto”, é assim que Teresinha Batista Simões é conhecida pelos moradores da cidade de Bambuí, Minas Gerais. Nascida em Arcos/MG, foi criada em Bambuí, e sua família tem fortes ligações com o Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias, que faz parte da estrutura do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Alexandrino Fernandes, irmão da Sra. Teresinha, trabalhou como técnico do Posto e era pessoa respeitada na cidade. Foi professor de Português, vereador e presidente da Câmara Municipal de Bambuí. Ele incentivou D. Teresinha a conhecer o Posto, cuja primeira visita ocorreu em 1952, acompanhada da mãe e de uma amiga. O grupo foi recebido pelo médico e chefe da unidade, Emmanuel Dias, que muito atencioso mostrou às visitantes as dependências. Ele mencionou então a necessidade de contratar alguém para realizar trabalhos de rotina. D. Teresinha se interessou pela vaga e, com 19 anos de idade, começou a trabalhar no Posto em agosto de 1952.

Sua função inicial era de higienizar material usado na coleta de fezes, proveniente da área rural, principalmente de estudantes de escolas públicas. Pouco tempo depois aprendeu a realizar exames de fezes ao microscópio, graças à iniciativa extraoficial do seu irmão, laboratorista do Posto. Certo dia, Emmanuel Dias flagrou Dona Teresinha trabalhando ao microscópio e se surpreendeu. Ele ficou feliz com o interesse dela na tarefa, e estimulo-a a continuar o aprendizado. Aos poucos a funcionária foi deixando o serviço de higienização de materiais, para assumir a função de técnica de laboratório. Ela colhia sangue de pacientes, examinava lâminas com material biológico, realizava preparação para xenodiagnóstico da doença de Chagas, observava barbeiros, auxiliava na realização de eletrocardiografias, etc. Nesse momento, ela já havia sido incorporada como funcionária pública, graças a mudanças administrativas ocorridas no início do ano de 1953.

D. Teresinha narra que quando começou a trabalhar no Posto a estrutura do edifício era nova. O local era referência internacional na pesquisa e combate à doença de Chagas, recebendo a visita de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, como dos Estados Unidos, Costa Rica, França e Venezuela. Ela recorda bem do cientista argentino Hugo Abitbol, que presenteou os funcionários com discos de tango, alegrando a todos. Além disso, o local era muito conhecido pelos moradores da cidade. O movimento era grande, atraindo pessoas da região e de outros estados do Brasil em busca de atendimento.

Segundo ela, pesquisadores e demais funcionários conviviam como uma irmandade, baseada no respeito. Dona Teresinha conta que em certo momento apenas duas mulheres trabalhavam no local, o que gerou falatório entre algumas pessoas da cidade, questionando a presença das mulheres no ambiente. Mas ela nunca se incomodou com o burburinho, e continuou a trabalhar com correção e independência. Por outro lado, os funcionários do Posto recebiam muito carinho e consideração dos moradores de Bambuí, como de uma vizinha, Dona Matilde, que oferecia almoços em sua casa, com a presença do Dr. Emmanuel Dias, apreciador dos pratos de torresmo e mandioca.

Duas filhas de Dona Teresinha, Silvia Simões e Silvana Simões, seguiram a tradição familiar e trabalharam no Posto, exercendo atividades de rotina no laboratório e de secretariado. Para elas, a mãe é uma inspiração, exemplo de mulher lutadora. O sobrinho de D. Teresinha, Alexandre José Fernandes, filho de Alexandrino Fernandes, também atuou na Fiocruz. Formado em biologia, ele foi pesquisador do Instituto René Rachou, investigando a Tripanossomíase americana.

Em meio a tantas ligações afetivas e familiares com a Fiocruz, D. Teresinha aposentou-se em 1991, mas continuou a trabalhar em razão da carência de pessoal, até que se afastou definitivamente em 1994, chegando, nesses últimos anos, à posição de encarregada. Sua longa trajetória no Posto foi reconhecida com uma homenagem, no Centenário do Dr. Emmanuel Dias, em 2008, ocasião em que recebeu uma placa ofertada pelo Município de Bambuí e pela Fundação Oswaldo Cruz, por sua “valiosa participação na heroica luta contra a Doença de Chagas”. Dona Teresinha sente saudades dos colegas e do trabalho, mas seu principal sentimento é o de alegria, pois ela teve sua trajetória profissional valorizada pela família e pelo Instituto René Rachou.

 

 

 

Texto: Natascha Ostos

Apoio:

– Direção IRR

– Projeto Fiocruz Minas, patrimônio do Brasil: História, memória, ciência e comunidade

Agradecimentos: Teresinha Batista Simões, Silvia Simões e Silvana Simões pela entrevista concedida no dia 02/03/2023, na cidade de Bambuí/MG.