A arte da medicina na Grécia antiga será tema de curso no IRR

A arte da medicina na Grecia antiga

Com o reinício do período letivo, o Seminário Democracia é Saúde, promovido quinzenalmente no Instituto René Rachou (IRR), retorna na semana que vem trazendo uma novidade: nos próximos cinco encontros, será oferecido um curso com o tema A arte da medicina na Grécia antiga, ministrado pelo professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jacynto Lins Brandão. As atividades acontecerão no auditório do IRR, sempre às segundas-feiras, às 14h, nas seguintes datas: 7 e 21 de agosto; 4 e 18 de setembro; e 2 de outubro. Para participar, não é necessário fazer inscrição.

A programação do curso inclui a leitura e discussão de cinco tratados da Escola de Hipócrates: Da arte, em que será debatida a questão da eficácia da medicina; A natureza do homem, expondo a concepção sobre a natureza do homem e a teoria dos quatro humores; e Águas, ares e lugares, enfocando a temática dos ambientes naturais e suas consequências para a saúde humana.

“A programação conta ainda com outros dois tópicos, que pretendem abordar duas questões de forma mais geral, sem se ater só à tradição hipocrática: a cura pela palavra e o estatuto do médico na sociedade grega. Esses textos, juntamente com outros tratados hipocráticos, foram publicados pela Editora Fiocruz em 2005, com o título Textos hipocráticos: o doente, o médico e a doença“, explica Brandão.

De acordo com o professor, o programa enfatiza a dimensão da medicina como tékhne (arte). Para ele, antes de tudo, há a concepção de que a medicina é uma arte (em grego, “tékhne), sendo que o que poderia definir uma tékhne é o fato de que dominando uma certa “epistéme” (ciência) capaz de, em termos gerais, explicar os resultados a que se chega, esses resultados só se darão na ordem do particular.

“Assim, um carpinteiro, por exemplo, deve ter conhecimentos de geometria, mas estes só se dão a ver na perfeição (ou imperfeição) daquela mesa que ele faz. Assim também, tendo uma ciência geral sobre a natureza do homem e o que produz a saúde e a doença, o médico só realiza sua “epistéme” naquele doente que tem diante de si”, afirma. “Isso quer dizer que um medicamento ou procedimento, por exemplo, cuja ação seja conhecida em termos gerais, só será eficaz caso se considerem as circunstâncias particulares que cercam o doente, como idade, compleição, local de moradia, tipo de alimentação, entre outras”, explica.

Democracia é saúde- Para o professor, a discussão da medicina na Grécia antiga, bem como da prática dos profissionais de saúde, guarda uma relação estreita com a democracia, uma vez que são os profissionais que tornam possível a vida em sociedade, e, num certo sentido, justificam a existência de uma “pólis” – a cidade – como o espaço mais próprio para a existência humana.

“Quando na Grécia se pensa a questão política, partindo da questão primeira- por que é que os homens escolhem viver em cidades -, sempre se enfatiza a importância que têm os ‘demiourgói’, isto é, os profissionais que oferecem ao ‘dêmos’, à população, algum tipo de ‘érgon’, de trabalho especializado (é dos dois termos, ‘dêmos’ e ‘érgon’ que se forma a palavra demiurgo)”, diz.

Segundo ele, esses demiurgos, em que se inclui o médico, têm sua função altamente potencializada justamente no contexto da cidade democrática, em que a política deve ser compartilhada com o dêmos.

“Para usar uma metáfora muito comum entre os gregos, recorrente tanto nos poetas, quanto nos historiadores e filósofos, assim como o indivíduo, também uma cidade pode ser saudável ou doente, a doença da cidade sendo devida basicamente ao desequilíbrio entre ricos e pobres, o que se produz especificamente devido à ganância dos ricos. Tudo isso está sob a máxima grega do “nada em excesso”, que, afinal, é o que garante saúde tanto no plano individual, quanto social.

O auditório do IRR fica na Avenida Augusto de Lima, 1715, Barro Preto.