Fiocruz Minas está no Congresso de Medicina Tropical

MedTrop

Pesquisadores, estudantes, gestores e profissionais da área de saúde e segmentos correlatos participam, no período de 27 a 30 de agosto, do 53º Congresso de Medicina Tropical (MedTrop). O evento, que está sendo realizado em Cuiabá (MT), tem como tema central Ambiente e doenças tropicais: desafios para campos e cidades. Assim como na edição anterior, durante o Congresso, também acontecem outros dois encontros: a Reunião de Pesquisa Aplicada em Chagas e Leishmaniose (ChagasLeish) e a Reunião de Pesquisa em Malária. A expectativa é que, durante os quatro dias de evento, cerca de duas mil pessoas participem das atividades.

“ Este é, sem dúvida, um dos mais relevantes eventos da área, especialmente por nos oferecer a oportunidade de integrar os diferentes atores envolvidos no combate e controle das doenças tropicais.  Tais encontros nos possibilitam ter conversas bastante produtivas com gestores, inclusive da esfera federal, além de permitir a troca de experiências com outras referências”, afirma a pesquisadora Gláucia Cota, do grupo de Pesquisa Clínica e Políticas Públicas em Doenças Infecciosas e Parasitárias do IRR e integrante da Comissão Científica da Reunião ChagasLeish.

Com o tema Velhos paradigmas, novos desafios, a Reunião ChagasLeish deste ano discute os padrões e protocolos que vêm sendo adotados à luz das novas descobertas. A ideia é promover uma reflexão acerca de conceitos que, por um longo período, foram disseminados, mas que, nos últimos anos, vêm sendo superados, devido aos resultados de estudos mais recentes.

“ A doença de Chagas, que durante muito tempo foi considerada intratável, é um exemplo de quebra de paradigma, em função dos novos conhecimentos terapêuticos. Também em relação à leishmaniose, temos  uma mudança de posicionamento a respeito dos reservatórios da parasita. Dessa forma, vemos que velhos paradigmas estão em franca mudança e é preciso acompanhar essas evoluções para que elas se reflitam nas políticas públicas”, explica Cota.

Um dos trabalhos apresentado pela pesquisadora discorre sobre as novas abordagens terapêuticas usadas em leishmaniose tegumentar. A apresentação mostra dados iniciais de um ensaio clínico finalizado em janeiro deste ano, que avaliou a eficácia da terapia intralesional para a forma cutânea da leishmaniose.

“Desenvolvemos um protocolo para avaliar se essa abordagem era tão eficiente quanto à que já vem sendo utilizada, a sistêmica, que é mais tóxica, por permitir a circulação do medicamento em todo o organismo. Constatamos que a eficácia do tratamento foi equivalente ao sistêmico. Ou seja, confirmamos a mesma taxa de cura com menos efeitos colaterais, por se tratar de um tratamento local”, explica.

Também estão sendo apresentados resultados de estudos de impacto econômico realizados pelo grupo, comparando o custo de várias abordagens diagnósticas e terapêuticas para a leishmaniose visceral. Tais estudos avaliam os custos decorrentes das intervenções em relação aos benefícios esperados, em comparações que visam  obter apontamentos que, baseando-se nas evidências científicas, possam nortear a tomada de decisões.

“ Estamos vivendo uma fase bastante positiva, que é o reconhecimento de que toda política pública deva ser orientada por evidência científica sólida. Daí a importância de revisar o conhecimento já produzido para definir as diretrizes a serem seguidas”, diz.

Mesa redonda- Também na Reunião ChagasLeish, o Grupo de Estudo em Leishmanoses participa de mesas-redondas. Uma apresentação do pesquisador José Dilermando Andrade Filho aborda Espécies alternativas de flebotomíneos envolvidas na transmissão de Leishamania infantum no Brasil. O grupo também apresenta um trabalho com o tema Diagnóstico molecular para diagnóstico da leishmaniose visceral canina: eleição de um alvo efetivo para investigação epidemiológica e esclarecimentos de casos.

“Trata-se dos resultados de um estudo desenvolvido por uma pós-doutoranda, por meio do qual foram testados vários alvos moleculares para a detecção da infecção em cães. Assim, trata-se de uma discussão acerca do diagnóstico da leishmaniose canina, objetivando adequar protocolos para serem utilizados pelos serviços de saúde”, explica a pesquisadora Célia Gontijo, que fará a apresentação.

Outro trabalho do Grupo de Estudos em Leishmanoses mostra os resultados de um estudo que avaliou um novo método de coleta de amostras para o diagnóstico molecular da leishmaniose tegumentar utilizando o swab. A técnica poderá substituir a biópsia -atual procedimento utilizado no Brasil-, tornando mais fácil a realização dos exames por se tratar de um método não invasivo, indolor e mais simples.

“ Vamos  mostrar os resultados e colocar em discussão. O interessante desse evento é possibilitar que a gente possa juntar todas essas diferentes abordagens, permitindo uma troca de conhecimentos, de forma que um possa dar suporte ao outro. A reunião é sempre com essa visão. Várias alterações que o programa de controle da doença sofreu ao longo dos anos foram em função das pesquisas realizadas em diferentes instituições e debatidas nesses encontros”, ressalta Gontijo.

Também o Grupo de Flebotomíneos/Epidemiologia, Diagnóstico e Controle das Leishmanioses participa de uma mesa-redonda intitulada Controle e prevenção das leishmanioses. O pesquisador Edelberto Santos Dias, que integra a Comissão Científica do ChagasLeish 2017, ministra a palestra intitulada Espécies de vetores nas áreas de transmissão: competência vetorial.

“Além disso, vários de nossos alunos apresentam trabalhos dentro dos temas livres”, contou o pesquisador.

Curso- Ainda dentro da Reunião ChagasLeish, o Grupo de Triatomíneos oferece o tradicional curso que, nesta edição, tem como tema Vigilância da Doença de Chagas. Estão sendo discutidos os modelos de vigilância de três Estados: Tocantins, Ceará e Minas Gerais, escolhidos por desempenharem uma forte atividade de controle.

“Interessante é que são modelos de três diferentes regiões do país: cerrado mineiro, nordeste e parte central. E são localidades importantes para a doença de Chagas”, comenta a pesquisadora Lileia Gonçalves Diotaiuti, que atua na coordenação da Reunião ChagasLeish.

Segundo ela,  discute-se o que esses Estados estão fazendo agora e o que têm em vista para melhorar. Para isso, foram convidadas a participar Anália Gomes (TO), Cláudia Bezerra (CE) e Marcela Ferraz (MG), que atuam nas coordenações voltadas para o controle da doença nesses Estados.

O curso é oferecido pelo Laboratório de Referência do IRR em sintonia com o grupo de Chagas da Secretaria de Vigilância em Saúde. “É uma oportunidade de integrar a pesquisa com o serviço. É importante porque os profissionais que atuam nas secretarias participam das inovações, e os pesquisadores se alimentam das perguntas que eles trazem do campo.  Então, é o momento de interagir pesquisa com serviço. Isso, na verdade, é missão deste laboratório, nosso laboratório respira isso”, ressalta Diotaiuti.

Outro destaque do evento é a homenagem ao pesquisador do IRR João Carlos Pinto Dias, em reconhecimento aos anos de trabalho dedicados ao combate da doença de Chagas, por meio de atividades científicas e acadêmicas.