Omar dos Santos Carvalho – 50 anos de dedicação à Fiocruz Minas

Omar dos Santos Carvalho Imagem: Agência Fiocruz de Notícias

 

 Nascido em Sabará, Minas Gerais, no ano de 1946, Omar dos Santos Carvalho completa, no dia 01 de setembro de 2020, 50 anos de dedicação à Fiocruz Minas. Em cinco décadas de trabalho, o pesquisador cresceu junto com a Instituição, pois Omar Carvalho ingressou no Instituto René Rachou em 1970, mesmo ano da sua graduação em Farmácia, pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica da UFMG.

Mas a sua ligação com a Fiocruz Minas começou ainda na graduação, quando, em 1968, o professor Geraldo Chaia apresentou aos alunos o caso de um parasita encontrado na Ásia e na África, presente em “moluscos terrestres e ratos, e que eventualmente infectava humanos, causando um tipo de ‘meningite’”.[1] O relato despertou o interesse do então estudante, que ao conversar com o professor Chaia foi convidado por este a estagiar no antigo Laboratório de Helmintíases Intestinais do Centro de Pesquisas René Rachou, liderado pelo pesquisador. Mais tarde, chegou-se à conclusão de que aquele parasita não existia no Brasil, e a pesquisa foi encerrada. A partir de então Omar Carvalho firmou sua vocação científica, dedicando sua carreira ao estudo de moluscos e helmintos.

Atuou como pesquisador do Laboratório de Ecologia, sob a chefia de Roberto Milward de Andrade (1970-1978),[2] que foi seu orientador de mestrado, realizado no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, sobre a epidemiologia da esquistossomose na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Antes de completar o mestrado, já atuava como professor de parasitologia no curso de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), chegando a professor titular. Sua carreira docente também incluiu outras instituições, a Faculdade de Medicina de Itajubá e a Faculdade de Enfermagem da PUC/MG.[3]

No Instituto René Rachou foi chefe do Laboratório de Helmintoses Intestinais, desde a sua criação em 1978, até 2015, coordenando pesquisas sobre “ação de drogas sobre a evolução dos ovos de helmintos […] trabalhos sobre esquistossomose, em áreas indenes”, dentre outros temas. No ano de 2003, o Laboratório foi credenciado como Serviço de Referência em Esquistossomose para o Ministério da Saúde, e em 2007, sob sua liderança, passou a abrigar o Grupo de Pesquisa em Helmintologia e Malacologia Médica do IRR. Omar Carvalho também faz parte do Programa Integrado de Esquistossomose (PIDE), da Fiocruz, tendo sido coordenador geral do Programa em duas ocasiões.[4]

Exerceu o cargo de vice-diretor do IRR em dois períodos. O primeiro entre os anos de 1991 e 1997, durante o mandato de Naftale Katz. Juntos, eles se empenharam na modernização da Instituição, o que resultou, dentre outras realizações, na construção de auditório e de prédio anexo, batizado de Amílcar Vianna Martins, inaugurado em 1994. Também foram responsáveis pela reforma do Posto Avançado Emmanuel Dias, em Bambuí/MG. No segundo mandato foi vice-diretor do IRR (2005-2008)[5] na gestão de Álvaro José Romanha.

Para além das atividades de administração e pesquisa na Fiocruz Minas, foi membro do Comitê Técnico Assessor do Programa de Esquistossomose do Ministério da Saúde, entre 2005 e 2018. É membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, tendo atuado como Secretário Geral da associação em duas oportunidades. É organizador, juntamente com outros colegas, do livro Schistosoma Mansoni & Esquistossomose: uma Visão Multidisciplinar, obra abrangente e de referência, publicada em 2008.[6] No ano de 2009, como principal coordenador do projeto Complementação da Carta Planorbídica nos estados de Minas Gerais, Paraná, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, recebeu financiamento do Ministério da Saúde com o objetivo de “registrar a ocorrência de espécies de moluscos do gênero Biomphalaria em municípios desses estados”.[7] No ano de 2017, Omar dos Santos Carvalho integrou um grupo internacional de pesquisadores que realizou o sequenciamento do genoma do Biomphalaria glabrata, disponibilizando para a comunidade científica informação importante para futuros estudos sobre esse caramujo hospedeiro e, consequentemente, para a esquistossomose.[8]

Ao mesmo tempo em que desenvolvia essa série de trabalhos, Omar Carvalho exerceu a função de orientador de estudantes de iniciação científica e de co-orientador de estudantes de mestrado e doutorado. Ele publicou mais de cento e cinquenta artigos científicos e organizou diversos eventos acadêmicos. Atua como Membro do Conselho Deliberativo do IRR. Por sua trajetória profissional, recebeu Moção de Aplauso da Câmara Municipal de Juiz de Fora, em 2005. Foi agraciado com a Medalha Pirajá da Silva, pela sua atuação na área de esquistossomose, e com a Medalha Comemorativa – Reconhecimento de Méritos, da Faculdade de Sabará.[9]

Omar Carvalho aposentou-se em novembro de 1998, mas continuou exercendo atividades de pesquisa no IRR. No ano de 2007, após longa carreira, o cientista foi surpreendido por uma situação inusitada. Ele foi notificado da ocorrência de dois casos de meningoencefalite em pacientes do Espírito Santo, com a informação de que os indivíduos haviam ingerido um molusco. Amostras foram enviadas ao Laboratório de Helmintologia e Malacologia. Segundo o pesquisador, para grande surpresa de todos, “A descoberta do parasita A. cantonensis no Brasil, em 2007, está relacionada com aquele mesmo nematódeo que procurei por cerca de um ano nos idos de 1968, e em decorrência do qual iniciei a minha carreira científica”,[10] e que, décadas depois, teve presença registrada no Brasil por sua equipe. Assim, nas dependências da Fiocruz Minas, o trabalho do então aluno de graduação, desenvolvido em 1968, encontrou-se, 39 anos depois, com as pesquisas do cientista experiente.

Nos seus cinquenta anos de trabalho no Instituto René Rachou, Omar dos Santos Carvalho sedimentou mais do que a sua própria carreira, ele ajudou a firmar os alicerces científicos que hoje sustentam a Fiocruz Minas e uma nova geração de pesquisadores.

 

 

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenadores: Dr.ª Zélia Maria Profeta da Luz; Dr. Roberto Sena Rocha.

Historiadora: Dr.ª Natascha Stefania Carvalho De Ostos.

Texto de: Natascha Stefania Carvalho De Ostos – Doutora em História

 

[1] CARVALHO, Omar dos Santos. Uma pesquisa brasileira vitoriosa. Acaso, persistência, necessidade, expertise, sonho e curiosidade. In: O Acadêmico. Boletim Informativo da Faculdade de Sabará, 2018, p. 20.

[2] FIOCRUZ MINAS. Relatório de dados internos.

[3]CARVALHO, Omar dos Santos. Currículo Lattes. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/6670708295250784>.

[4] FIOCRUZ. Centro de Pesquisas René Rachou – A Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fiocruz, 2000, p. 14.

[5]  CARVALHO, Omar dos Santos. Currículo Lattes. Ibidem.

[6] CARVALHO, Omar dos Santos; COELHO, Paulo Marcos Zech; LENZI, Henrique Leonel (orgs.). Schistosoma Mansoni & Esquistossomose: uma Visão Multidisciplinar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.

[7] FIOCRUZ. Agência Fiocruz de Notícias. Projeto vai mapear a ocorrência do hospedeiro intermediário do ‘S. mansoni’, 2009. Disponível em: <https://agencia.fiocruz.br/projeto-vai-mapear-a-ocorr%C3%AAncia-do-hospedeiro-intermedi%C3%A1rio-do-s-mansoni>.

[8] AGÊNCIA BRASIL. Investigadores secuencian genoma del caracol vinculado a la esquistosomiasis, 12 jun. 2017. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/es/pesquisa-e-inovacao/noticia/2017-06/investigadores-secuencian-genoma-del-caracol-vinculado-la>.

[9] CARVALHO, Omar dos Santos. Currículo Lattes. Ibidem.

[10] CARVALHO, Omar dos Santos. Uma pesquisa brasileira vitoriosa. Ibidem, p. 23.