Pesquisa vai avaliar efeitos da pandemia nas questões de gênero

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A Fiocruz, em parceria com um grupo de pesquisa internacional, obteve financiamento para conduzir análises em tempo real das dinâmicas de gênero durante a pandemia da COVID-19.  A pesquisa será possibilitada por meio de uma verba de 1.6 milhões de dólares concedida pela Fundação Bill e Melinda Gates à Universidade Simon Fraiser (Canadá), que está repassando parte do recurso a outras instituições, de forma a incluir mais países nessa análise. À frente do estudo, a pesquisadora Julia Smith, da Universidade Simon Fraiser, explica que o projeto “Gênero e COVID-19” é único que tem como foco os efeitos relacionados a gênero nas respostas à Covid-19. Por meio dele, será observado como políticas sociais, econômicas e de saúde interagem com, exacerbam ou mitigam as desigualdades pré-existentes.

Para fazer essa observação, a equipe responsável pelo projeto lançou um site em que uma matriz sobre Gênero e COVID-19 irá atuar como uma base de dados e evidências para cada país, demonstrando evidências dos impactos de gênero, as políticas atuais que abordam essas questões, e as falhas nas respostas à pandemia. Um conjunto de ferramentas e recursos disponibilizado nesse site irá fornecer orientações para gestores públicos sobre como responder a pandemias e epidemias usando a lente de gênero.

O projeto inicial era focado na China, Hong Kong, Reino Unido e Canadá, com o suporte de Institutos Canadenses para Pesquisa em Saúde (CIHR). Os pesquisadores, agora, irão usar o financiamento adicional da Fundação Bill e Melinda Gates para ampliar a pesquisa para cinco países, dentre eles o Brasil em parceria com a Fiocruz, com o objetivo de conduzir estudos de caso qualitativos e pesquisas por meio de survey sobre os impactos sociais e econômicos da pandemia em populações vulneráveis.  Na Fiocruz, o caso do Brasil será coordenado pelos pesquisadores Gustavo Matta, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), e pela Denise Nacif Pimenta, da Fiocruz Minas.

O investimento irá permitir que o grupo internacional, que além do Canadá inclui países como Estados Unidos, Bangladesh, República Democrática do Congo, Quênia, Nigéria, Reino Unido, Hong Kong, Austrália e Brasil, amplie suas análises sobre questões de gênero, bem como os riscos e impactos da pandemia sobre a saúde e o bem-estar social e econômico das populações.  Esses países estão em estágios variados da pandemia, com diferentes tipos de ameaças à equidade de gênero, diferentes contextos econômicos e, em alguns casos, recente recuperação de surtos de outras doenças, como a dengue e Zika no Brasil e o ebola na República Democrática do Congo.

Gênero e pandemia- Estudos têm mostrado que os homens morrem mais do que as mulheres de COVID-19, entretanto, segundo pesquisadores, as mulheres enfrentam mais problemas sociais e econômicos que resultam da pandemia. No Brasil, as iniquidades estruturais já presentes na sociedade brasileira são ainda mais acentuadas no contexto da pandemia, e as mulheres continuam sendo desproporcionalmente afetadas, em especial mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Um bom exemplo desse impacto na vida das mulheres pode ser verificado a partir do fechamento das escolas, que acarretou um efeito diferencial sob as mulheres, as quais em geral assumem mais o cuidado dos filhos.  Além disso, as mulheres têm mais chance de estarem trabalhando em empregos pouco estáveis e serem demitidas devido à COVID-19. O isolamento social pode, ainda, aumentar o risco de violência doméstica contra mulheres.  Já as emergências em saúde podem causar um deslocamento de recursos das áreas de cuidado materno e saúde sexual e reprodutiva para atender as demandas imediatas relacionadas à pandemia.

Visite o site do projeto em: https://www.genderandcovid-19.org/