Presidente da SBPC ministra aula inaugural na Fiocruz Minas

Aula Inaugural Ildeu de castro 021

Crise e desafios da ciência brasileira foi o tema da aula inaugural da Fiocruz Minas, ministrada pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira. Durante a atividade, realizada na manhã da última quarta-feira (28/3), ele falou sobre a situação da ciência e tecnologia no Brasil, apontando os principais gargalos que precisam ser superados.

Um dos aspectos abordados durante a apresentação foi o crescimento de profissionais com títulos de mestre e doutor em todo o país. De acordo com o presidente da SBPC, os investimentos destinados às universidades públicas e aos centros de pesquisa estão entre os fatores que possibilitaram tal evolução. Entretanto, segundo ele, é preciso olhar onde estão esses profissionais e em que áreas eles atuam.

“Os números de 2016 mostram que o Brasil tem formado cerca de 58 mil mestres anualmente e 20 mil doutores.  Mas esse crescimento não aconteceu de forma igual em todo o país. A maioria dos mestres e doutores ainda estão concentrados no Sudeste e é preciso que isso melhore também em outras regiõesâ€, afirmou. “É preciso pensar em um projeto de pós-graduação que contemple todo o país. No Norte, por exemplo, há menos cursos oferecidos e nenhum deles tem nota 6 ou 7 na avaliação da Capesâ€, completou.

Ildeu destacou a necessidade de melhorar a qualidade da educação científica no Brasil. Ele lembrou que muitas mudanças estão acontecendo no ensino médio, que vão acarretar uma série de modificações em disciplinas como física, biologia e várias outras, mas, apesar disso, a comunidade científica não está sendo consultada.

“A reformulação não está sendo discutida nem mesmo entre os professores. O ensino médio é, sem dúvida, um dos principais gargalosâ€, disse. Para o presidente da SBPC, é necessário investir na construção de uma cultura científica na sociedade brasileira, de forma que a população tenha consciência da importância do desenvolvimento científico e tecnológico.

“De uma forma geral, a percepção dos brasileiros em relação à ciência é muito positiva. No Brasil, o cientista tem mais credibilidade que o médico e o jornalista, duas profissões que inspiram confiança. Mas precisamos aproveitar mais issoâ€, disse. Ildeu afirmou que a Fiocruz é uma instituição que valoriza as iniciativas que dialogam com a população, como o Museu da Vida e o Caminhão da Ciência. Mas, para ele, no quadro geral, o número de atividades ainda é reduzido.

Recursos- Outro aspecto mencionado pelo presidente da SBPC foi a limitação de orçamento para a pesquisa científica. Segundo ele, enquanto países como a China estão aumentando os investimentos, o Brasil vem cortando recursos a cada ano.  Em 2016, já com uma série de cortes, foram investidos 4 bilhões. Em 2018, o montante caiu para 3,4 bilhões.

“E isso estamos conseguindo com muita pressão. Temos ido ao Congresso e tentado mostrar a necessidade de continuar fortalecendo o desenvolvimento científico brasileiroâ€, contou. Ele mencionou uma série de retornos que a ciência e tecnologia proporcionaram ao Brasil, como por exemplo o processo de fixação do nitrogênio, que permitiu a eliminação de adubos nitrogenados, gerando uma economia de 1,5 bilhão ao ano.

“E também na saúde pública, que vocês sabem bem, o Brasil tem conseguido dar respostas rápidas no enfrentamento de epidemias, graças às pesquisa científicas. A questão da Zika é um caso emblemáticoâ€, lembrou.

Estimular a inovação foi outro ponto apontado por Ildeu como gargalo a ser superado. Segundo ele, levando em consideração os critérios de inovação, o Brasil ocupa a 69º posição no ranking mundial. “Nossa economia sempre foi baseada em atividades de exploração, o que faz com que tenhamos muita dificuldade de arriscarâ€, comentou.

Outro aspecto que requer aprimoramentos, segundo Ildeu, é o marco legal, que estabelece medidas para desburocratização das atividades de ciência e tecnologia no Brasil. Além disso, ele reforçou a necessidade de pensar em um projeto de país.

“Todos nós compartilhamos de recursos públicos e precisamos ter compromisso com isso. Nossa comunidade precisa se mexer maisâ€, afirmou.

Ildeu encerrou a apresentação fazendo um convite para que todos participem dos seminários temáticos que serão promovidos em várias cidades, entre elas Belo Horizonte, com o intuito de elencar pontos a serem repassados aos candidatos a cargos públicos nas próximas eleições. A ideia é fazer com que eles se comprometam com as propostas.