Fiocruz Minas e SES-MG realizam evento para discutir necessidades locais em vigilância em saúde

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A Fiocruz Minas e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) promoveram, nos dias 22 e 23 de novembro, o 1º Encontro de Inovação na Vigilância em Saúde. O evento, realizado no Hotel Boulevard Plaza, em Belo Horizonte, reuniu pesquisadores da Fiocruz Minas e profissionais que atuam na área de Vigilância em Saúde em Minas Gerais, incluindo coordenadores do nível central da SES-MG e da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS-BH), bem como representantes das 28 Gerências Regionais de Saúde (GRSs) do estado. O objetivo foi promover uma aproximação entre a academia e as pessoas que atuam na ponta do Sistema Único de Saúde no estado, de forma a compreender as necessidades locais no âmbito da Vigilância em Saúde e possibilitar que a Fiocruz ajude a encontrar respostas para as principais demandas.

Presente no primeiro dia de evento, o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, falou sobre a satisfação de participar do encontro e da importância das parcerias. “Tenho uma enorme gratidão pelo estado de Minas Gerais, pois, quando comecei minha especialização, em 1983, trabalhei muito no estado e tenho muito carinho pelo acolhimento que tive e, por isso, é imensa a satisfação de participar da abertura desse encontro. A gama de problemas que temos na Vigilância é gigantesca, e a superação desses problemas jamais será por meio de um único órgão. A Fiocruz, que é patrimônio da sociedade brasileira, está envolvida em várias frentes de trabalho, por meio de uma série de parcerias, pois acreditamos que, juntos, poderemos encontrar soluções em menor espaço de tempo. Esta nossa geração talvez não seja ainda beneficiada, mas os que virão depois de nós talvez possam viver em um país mais humano, mais justo e solidário”, disse.

O diretor da Fiocruz Minas, Roberto Sena Rocha, ressaltou que o evento é fruto de muitas discussões, iniciadas há cerca de um ano. “A ideia é que, por meio dessas discussões, possamos compreender de que forma a academia pode ajudar a resolver os problemas enfrentados por quem está na ponta. É claro que não será possível resolver tudo de uma vez, mas podemos ir priorizando e, assim, elaborar um edital para dar as primeiras respostas. Estamos chamando de primeiro encontro, justamente porque nossa intenção é que aconteçam outros. É preciso debater para dar respostas. Então, quero agradecer a todos vocês por estarem aqui”, afirmou.

O subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Campos Prosdocimi, enfatizou a importância da aproximação entre a SES e a Fiocruz e reforçou a necessidade de que seja uma parceria permanente. “Vínhamos conversando com a Fiocruz há algum tempo e, por isso, é uma felicidade ver esse encontro acontecer. É um momento importante, em que poderemos fazer provocações e refletir juntos, pois fazer política pública com olhar diferenciado é sempre mais produtivo. Esse é o primeiro passo, haverá outros, e espero que a gente possa continuar dialogando, de forma a nos aproximar mais e melhor das necessidades do cidadão mineiro”, destacou.

O subsecretário de Promoção e Vigilância à Saúde da SMS-BH, Fabiano dos Anjos Pereira Martins, ressaltou que encontros como esse podem ajudar a avançar, de forma a oferecer serviços cada vez melhores para a população. “O SUS de Minas Gerais é referência para o Brasil e este é um momento em que poderemos avançar ainda mais nessa referência. Estado e municípios produzem muita coisa e este é um espaço profícuo para avançarmos na qualidade da oferta dos serviços. Espero que, por meio dessa parceria com a Fiocruz, a gente possa sair com condições de melhorar o que a gente sabe fazer, que é cuidar da saúde da população”, afirmou.

Apresentando as instituições– Para mostrar o atual cenário das atividades da Vigilância em Saúde no estado, o subsecretário da SES-MG apresentou as prioridades definidas pela pasta para 2023. Entre os principais desafios, está a ampliação das coberturas vacinais e, para isso, algumas ações estão sendo adotadas, como a criação do vacimóvel, uma van adaptada para funcionar como um pequeno centro de vacinação itinerante, bem como a implementação do projeto Vacina Mais Minas, que oferece um incentivo financeiro para os municípios com maiores coberturas. Também está sendo criado um canal via WhatsApp para levar informações à população.

Outro desafio para o ano é o enfrentamento das arboviroses. Entre as ações em andamento, está a utilização de drones para a realização do controle de Aedes, bem como a ampliação da vigilância entomológica das ovitrampas, armadilhas que indicam a presença do mosquito. Há ainda a ampliação do WMP, o método Wolbachia, em parceria com a Fiocruz, com a construção de uma biofábrica.

Entre os agravos não transmissíveis que são desafios para a SES-MG, Prosdocimi elencou o enfrentamento da violência contra a mulher, a saúde do trabalhador e a vigilância em saúde ambiental. Também para essas questões, algumas medidas já estão sendo adotadas.

“Procurei mostrar um pouco de nossa trajetória durante este ano. Acredito que, no próximo, 2024, já teremos ações para enfrentar esses desafios que estejam sendo desenvolvidas em conjunto com a Fiocruz. O objetivo é que possamos entregar mais e melhor para o mineiro”, destacou.

Ainda com o intuito de oferecer um panorama sobre a SES-MG, a coordenadora do Núcleo de Cooperação com Organismos Nacionais e Internacionais da SES-MG, Karina Maia Lage, apresentou o Núcleo e suas principais frentes de atuação, que são cooperação, projetos e inovação. Lage destacou que é fundamental inovar no setor público, pois isso possibilita gerar mais impacto e valores para o cidadão. “Mas inovar requer cooperação, pois não tem como inovar sozinho. Hoje, temos cooperação com a Fiocruz, OPAS, Ministério da Saúde, WMP, entre outros”, disse.

A responsável pela Coordenação de Inovação da Fiocruz Minas, Cristina Carrara, apresentou a Fiocruz e o Instituto René Rachou (IRR) e apontou a principais frentes de trabalho da instituição. “A Fiocruz é reconhecida como a mais importante instituição de pesquisa científica da América Latina. Está presente em todas as regiões do país, tendo a maior parte das unidades situada no campus, no Rio de Janeiro. O IRR foi criado em 1950, para responder às doenças parasitárias, tendo sido incorporado à Fiocruz em 1970. Atualmente, trabalhamos com temas bastante diversificados”, contou.

Ao traçar um panorama sobre o IRR, Carrara mencionou as áreas de atuação: ensino, pesquisa e serviços de referência. A coordenadora também citou números que falam sobre a instituição. “Temos 25 grupos de pesquisa, dois programas de pós-graduação muito bem avaliados pela Capes, 60 patentes vigentes e mais de 200 projetos em andamento atualmente. Seis de nossos pesquisadores estão entre os 100 mais influentes do mundo. Hoje, um total de 729 pessoas, entre trabalhadores e estudantes, atuam na instituição”, afirmou.

Carrara apresentou ainda as plataformas tecnológicas do IRR, que são espaços tecnológicos que contam com equipamentos de última geração e profissionais de excelência, disponíveis para atender a demandas internas e externas. Segundo ela, só em 2022, cerca de 500 mil amostras foram analisadas nas plataformas. Também foram apresentadas as coleções biológicas, que contam com mais de 100 mil espécies.

Finalizando a apresentação, a coordenadora mostrou as seis grandes áreas de atuação dos grupos de pesquisa do IRR: mecanismos de doença; P,D&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação) em diagnostico; P,D&I em vacinas; P,D&I em fármacos; transmissores de patógenos; e políticas, programas e serviços de saúde.

Pesquisadores- Ainda dentro da proposta de possibilitar aos participantes conhecer um pouco mais sobre o trabalho da Fiocruz Minas, pesquisadores da unidade apresentaram as principais atividades realizadas por alguns dos grupos e plataformas. A definição dos temas a serem apresentados foi feita a partir das necessidades elencadas pelos participantes em pitchies enviados à comissão organizadora, durante a fase de preparação do evento.

Representando a Rede de Vigilância Genômica, o pesquisador Gabriel Fernandes Rocha falou sobre a estrutura das plataformas de sequenciamento genético da instituição, apontando algumas possibilidades de atuação junto à Vigilância em Saúde. O pesquisador Rubens Lima do Monte Neto apresentou testes de diagnósticos para diferentes agravos que podem ser uma alternativa ao PCR, que é um dos mais sensíveis, mas requer estruturas mais complexas. Um dos exemplos citados foi o OmniLAMP, desenvolvido na Fiocruz Minas, com a coordenação de Rubens.

Representando o grupo de Triatomíneos, a pesquisadora e vice-diretora de Ensino, Comunicação e Informação do IRR, Rita de Cássia Moreira de Souza, mostrou um panorama da doença de Chagas no Brasil e apresentou as atividades desenvolvidas pelo grupo, voltadas ao enfrentamento desse agravo. A pesquisadora Gláucia Fernandes Cota falou sobre o contexto atual do diagnóstico e tratamento das leishmanioses, apontando os principais desafios a serem superados e de que forma o grupo de Pesquisas Clínica e Políticas Públicas em Doenças Infecto-Parasitárias do IRR vem atuando no enfrentamento das leishmanioses. Representando o grupo de Estudos em Leishmanioses e o grupo de Taxonomia de Flebotomíneos/Epidemiologia, Diagnóstico e Controle das Leishmanioses, o pesquisador José Dilermando Andrade Filho apresentou as atualizações e perspectivas em relação a vetores e reservatórios de leishmania e falou sobre a atuação dos grupos do IRR.  O pesquisador Edelberto Santos Dias também contribuiu com esclarecimentos sobre o tema. No final das apresentações, os participantes visitaram estandes dos cinco serviços de referência do IRR, podendo esclarecer dúvidas e obter informações.

Oficinas- As necessidades apontadas pelos participantes do encontro por meio dos pitchies foram consolidadas pela organização do evento em uma planilha. Assim, no segundo dia do evento, foram formados cinco grupos de trabalho que, durante toda a manhã, discutiram cada um dos itens elencados e elegeram os principais. Os eleitos foram apresentados em uma plenária, realizada na parte da tarde.

Agora, a lista de temas prioritários será discutida internamente com os pesquisadores da Fiocruz Minas e, em breve, será lançado um edital, visando ao desenvolvimento de pesquisas que respondam às demandas definidas como prioridade. Os demais temas levantados farão parte de um banco de prioridades, que será compartilhado pela Fiocruz e pela SES-MG.

Para a tecnologista da Fiocruz Minas Tatiana Ázara, que atuou na organização do evento, o 1º Encontro de Inovação na Vigilância em Saúde promoveu uma troca bastante positiva que, certamente, vai gerar resultados importantes. “Realizar uma escuta qualificada dos profissionais de saúde para entender como o IRR pode melhor apoiar o estado com a expertise e serviços de referência ofertados pela instituição foi uma experiência muito enriquecedora. As devolutivas foram muito positivas e esperamos que esse seja o primeiro de muitos momentos de interação e troca de experiências entre os profissionais de saúde de Minas Gerais e o IRR”, afirmou.