Antoniana Ursine Krettli recebe homenagem

Antoniana

A pesquisadora especial da Fiocruz Minas foi homenageada durante encontro da Sociedade Brasileira de Imunologia

Dra. Antoniana, na placa está mencionado o reconhecimento às suas contribuições à pesquisa em imunologia no Brasil. Em sua opinião, além disso, quais seriam as suas principais contribuições a SBI?

Acho que fui escolhida também por ter sido a primeira presidente mulher da SBI, em 1987 e primeira professora mulher Titular do ICB. Até então, as Diretorias anteriores eram lideradas por homens, cientistas no RJ e SP. Fomos o primeiro grupo fora do eixo RJ-SP sendo nossa meta trazer a Diretoria para as Minas Gerais e chamar atenção para a pesquisa sobre imunologia de parasitas, por ser muito sólida aqui.  Fizeram parte da nossa equipe os Doutores Giovanni Gazzinnelli e Juarez Ramalho-Pinto (UFMG), Rodrigo Correa, do IRR, e outros jovens pesquisadores, inclusive duas das minhas alunas de doutorado na Tesouraria (Eliana M. Mauricio da Rocha e Lucia da Cunha Galvão). Eu era professora titular da UFMG e Chefe do Laboratório de Malária, no IRR.

Quando foi entregue o prêmio?

O prêmio me foi entregue num evento temático da SBI (Mucosal Immunity), dia 06 de outubro, em Salvador, organizado pelas Doutoras Ana Caetano, Professora Titular de Imunologia do ICB, UFMG, Claudia Brodsky, pesquisadora da FIOCRUZ-Bahia e Tatiane Uceli Maioli, do ICB-UFMG. Foram convidadas para o evento muitas conferencistas mulheres, do Brasil e do Exterior, cientistas de destaque pelas suas pesquisas em Imunologia.

Como foi quando soube do prêmio?

Fui notificada da homenagem semanas antes quando as organizadoras do evento, muito gentilmente, me deram como alternativa escolher entre a abertura ou o encerramento do evento. Optei pelo encerramento, mesmo sabendo que haveria menos participantes, pois a maioria fica de 1-2 dias no evento, sobretudo os estrangeiros, portanto teria uma audiência menor. Meu nome não constava do programa e foi revelado apenas na entrega da medalha Women in Science, Senior Award, indicada por uma comissão de ex-Presidentes da SBI, os Drs. Marcelo Barcinsky-USP e FIOCRUZ- RJ, Júlio Scharfstein-UFRJ e João Santana-USP-RP. Muitas outras mulheres cientistas se classificaram para o prêmio na categoria jovem, para o qual concorreram alunas de pós-graduação e jovens recém doutoras selecionadas durante o evento por outra comissão. A cerimônia de premiação ocorreu no dia 6 de outubro, numa sexta-feira pela manhã, depois de uma semana intensa de trabalhos e da conferência científica de encerramento. Pareceu-me mais relevante me dirigir aos jovens pesquisadores brasileiros, homens e mulheres cientistas, plateia majoritária naquela cerimônia de encerramento. Foi muito emocionante ter sido apresentada pelo Dr. Julio Scharfstein, ex-aluno de doutorado do Prof. Dr. Victor Nussenzweig, da NYU, como eu mesma. Júlio assinalou aspectos da minha trajetória científica como Imunologista, relembrando fatos mais relevantes dessa pesquisa iniciada no meu doutorado conduzido parcialmente na NYU, com foco na resposta imune na Doença de Chagas em pacientes tratados e não tratados. Nesse tema trabalhei depois durante décadas, tendo inúmeras colaborações dentro e fora da FIOCRUZ, além de grupos do Exterior. Em outra linha de trabalhos desenvolvidos com meus orientandos, do IRR e na UFMG, estudamos a resposta mune na malária humana e experimental durante décadas. Recebi da SBI, além da placa Women in  Science Senior Award-I Edition of the Award, uma joia personalizada, um plasmócito secretando imunoglobulinas, os anticorpos (foto)

Foi um momento de grande alegria, tanto ouvir os aplausos calorosos da audiência, toda de pé (foto), como ver estampada a emoção em muitos dos rostos, colegas, alunos, todos atentos durante minha fala que foi feita a pedido das organizadoras do evento.

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Relembrei as principais metas que nossa Diretoria havia proposto e realizado. Uma delas, objeto da minha maior motivação, foi desmistificar a ideia, a meu ver equivocada de alguns grupos de imunologistas, de que estudar a imunologia das parasitoses era uma pesquisa de segunda classe e menos importante do que pesquisas em imunologia básica. Naquela época, no Brasil havia diversos grupos liderando pesquisas de excelência estudando a resposta imune de  pacientes acometidos por parasitos ou vacinados contra os mesmos. Um bom exemplo era dos pesquisadores da Bahia, fazendo estudos sofisticados sobre a resposta imune em pacientes com leishmanioses ou com esquistossomose, doenças parasitárias comuns na região. Outra meta era organizar o estatuto da SBI, uma exigência para podermos registrar em cartório essa Sociedade sem fins lucrativos. Eram metas nada fáceis, mas foram cumpridas com sucesso, valendo a pena o sacrifício e as numerosas viagens que tive de fazer!

 

Qual é o significado dessa homenagem para você?

Em qualquer época da vida é muito gratificante ser homenageada e ter nosso trabalho reconhecido. Quando li a carta das organizadoras do evento da SBI me comunicando da homenagem, chorei de emoção, nem consegui responder prontamente ao convite. Foi uma surpresa com a qual eu não contava, afinal tinha sido Presidente da SBI 30 anos atrás (1987-88)! Minha foto na homenagem, enquanto falava para os ouvintes atentos, revela bem essa alegria. Momentos assim gratificam uma vida de luta e de trabalhos árduos dedicados ao ensino e a pesquisa científica. Sobrevivi a diversos turbilhões de problemas sem me deixar intimidar ou esmorecer. Embora via de regra eu seja otimista, não acredito que a atual crise de falta de recursos para a ciência seja passageira, talvez agora seja mais aguda do que foi no passado. Todos nós pesquisadores brasileiros que dedicamos uma vida inteira à pesquisa, por certo encaramos com receio o futuro, a curto e médio prazo, temendo que a atual crise e falta de oportunidades para os cientistas acabe por levar os jovens doutores a buscar melhores oportunidades no exterior. Isso infelizmente está acontecendo, o que significa  uma perda irreparável! Torço para que a escassez de recursos financeiros seja superada. Enquanto isso, somos obrigados a ter mais criatividade, muito cuidado ao planejar experimentos e delinear pesquisas, majoritariamente feitas pelos jovens alunos de pós-graduação e pós-doutorandos. Sem grandes financiamentos, como num passado já vivemos, acho oportuno lembrar que a boa ciência exige perguntas originais, muita dedicação e total compromisso com a excelência, agora e como foi no passado.

equipe

Antoniana Ursine Krettli  (Professora Titular, Membro da Academia de Ciências, Bolsista 1A do CNPq no IRR) e equipe:

Ana Luiza Leao,  Gustavo De Oliveira, Isabela Cerávolo,

Patrícia Pereira  e Julia Coutinho.