Dicionário Feminino da Infâmia é lançado em Belo Horizonte

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Um seminário pedagógico marcou o lançamento, em Belo Horizonte, do Dicionário Feminino da Infâmia, obra de referência sobre violência contra mulheres, publicada pela Editora Fiocruz. O evento, realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Academia Mineira de Letras, reuniu pesquisadores e profissionais de saúde, assistência social, segurança e justiça, que atendem mulheres em situação de violência.

“A ideia é apresentar a obra, elaborada tão cuidadosamente por todos os envolvidos ao longo de cinco anos, colocando em discussão esse tema, que pela relevância e atualidade, precisa estar constantemente em debate”, destacou a pesquisadora da Fiocruz Minas e coordenadora do Comitê Nacional de Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, Elizabeth Fleury, uma das organizadoras da publicação.

O Dicionário Feminino da Infâmia é composto por 187 verbetes que conceituam fenômenos envolvendo vários aspectos, tipos e cenários das violências e também formas de resistência. Trazem ainda informações sobre análises científicas que ampararam a criação de procedimentos, normas, abordagens e técnicas que hoje estão regulamentados e em funcionamento em diversos setores públicos de forma consolidada ou ainda embrionária.

“O tema por si só já seria relevante, diante dos números impressionantes de notificações de casos de violência contra a mulher; números altos, que, sabemos, ainda são subnotificados. E especialmente em um momento tão delicado, em que percebemos um movimento de retrocesso em relação a uma série de direitos, trata-se de uma discussão fundamental. Sem dúvida, é motivo de grande satisfação fazer parte do lançamento de uma obra tão importante como esta”, afirma a diretora da Fiocruz Minas, Zélia Profeta.

Os verbetes que compõem o dicionário foram elaborados por mais de cem profissionais, que atuam em diferentes campos de conhecimento e linhas de pesquisa. Uma das autoras, Marlise Matos, professora e pesquisadora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, ressaltou a importância de reconstruir uma agenda de direito, não permitindo nenhum retrocesso. Segundo ela, promover discussões acerca dos direitos da mulher, da criança e do adolescente é promover a democracia.

“Precisamos multiplicar os debates e movimentos que combatam a cultura do estupro, da intolerância e do desrespeito. A questão do gênero não pode ser considerada uma questão ideológica, mas um campo de reflexão interdisciplinar e complexa”, salientou.
Marlise destacou ainda que, no Brasil, há menos mulheres exercendo cargos políticos do que em muitos países árabes, onde predomina uma cultura machista. Para ela, essa situação indica a necessidade de acender o sinal de alerta, no sentido de tentar evitar que decisões tomadas à revelia promovam cada vez mais desigualdade entre os gêneros.

“Hoje, das 81 vagas do Senado, apenas 13 são ocupadas por mulheres. Na Câmara dos Deputados Federais, lugar de decisão dos projetos de lei para todo o país, há 91% de homens. Nas câmaras municipais, o percentual de mulheres exercendo o cargo de vereador é de 13%, enquanto nas prefeituras e assembleias legislativas, apenas 11%”, relatou.

Presente na abertura do seminário, o secretário de Estado dos Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais, Nilmário Miranda, afirmou que o Dicionário Feminino da Infâmia cumpre uma função social, pois capacita profissionais do setor público, de todos os lugares, para lidarem com a situação da violência contra a mulher de uma forma mais justa, digna e sistematizada.

“É uma obra de referência, que poderá chegar aos mais diversos rincões. E vai ao encontro de nossa meta de criar conselhos da mulher, que possam atuar como ponte entre a população e o poder público”, destacou.
Também estiveram presentes no seminário a deputada estadual, Marília Campos, a superintendente de Enfrentamento de Violência Contra a Mulher da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais, Isabel Lisboa, o ex-diretor da Fiocruz Minas, Rodrigo Oliveira.