Egler Chiari

Egler

Egler Chiari. Foto: Currículo Lattes

Egler Chiari nasceu no dia 07 de fevereiro de 1934, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Após terminar o ensino médio ingressou no Serviço Nacional de Malária (SNM), em abril de 1955, registrado na função de dedetizador. No ano seguinte passou para o cargo de auxiliar de expediente e verbas. Em 1957, após organização administrativa que criou o Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu), continuou exercendo suas funções no Centro de Pesquisas de Belo Horizonte (CPBH). Já em 1961 era lotado como escrevente-datilógrafo.[1]

Chiari interessou-se pela biologia trabalhando nesse ambiente de pesquisa.[2] Antes mesmo de entrar para a faculdade publicou seu primeiro trabalho científico, em 1956, com o pesquisador Zigman Brener.[3] O tema era diagnóstico da esquistossomose, área em que iniciou sua carreira científica.

Desde 1959, apesar de classificado como escrevente, ele exercia a atribuição de técnico de laboratório no CPBH, coordenando “trabalhos científicos sobre terapêutica experimental […] exames de insetos e moluscos transmissores de doenças, para diagnóstico de infecções; trabalhos de inoculação de animais de laboratório com agentes etiológicos de doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose e outras parasitoses; trabalhos de necropsia e exame de animais infectados. […] trabalhos experimentais de quimioterapia em animais […] inquéritos epidemiológicos, coleta de moluscos, insetos e outros animais transmissores de infecções, para pesquisas de laboratórioâ€.[4] Em 1960 ele ingressou na graduação em Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais, terminando o curso em 1963.

No ano de 1966, apesar de ainda registrado como escrevente, suas funções correspondiam a de biologista do CPBH.[5] Curiosamente, foi como “escrevente-datilógrafo†do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu), que Chiari foi autorizado a ausentar-se do cargo por 4 meses, em 1968, para realizar estudos na Universidade John Hopkins, EUA, com bolsa concedida pela Repartição Sanitária Pan-americana.[6] Somente em 1970 consta que ele foi readaptado, como servidor do Ministério da Saúde, “no cargo de Pesquisador em Biologiaâ€.[7] Ao longo da sua carreira, ele desenvolveu vários trabalhos com Zigman Brener, seu orientador de mestrado na dissertação intitulada “Crescimento, diferenciação e infectividade de formas de cultura do Trypanosoma cruzi mantidas em laboratório por diferentes períodosâ€, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1971. Junto com Brener realizou pesquisas sobre doença de Chagas, publicando trabalhos sobre “polimorfismo de formas sanguíneas do Trypanosoma cruziâ€, agentes quimioterápicos, diagnóstico e teste de drogas[8] além de ter desenvolvido estudos experimentais no campo da esquistossomose.[9] No Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), Chiari publicou cerca de 14 trabalhos científicos, resultantes de pesquisas desenvolvidas na instituição.[10]

Paralelamente à sua atuação no CPqRR, Chiari iniciou carreira docente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1968, na Faculdade de Farmácia, e mais tarde no Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Foi um dos primeiros alunos do Programa de Pós-graduação em Parasitologia, que ele ajudou a fundar, pois também era professor da universidade. Foi docente da Escola de Medicina de Itajubá/MG e da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia/MG. Na década de 1980, já como doutor, liderou investigações sobre “biologia do T. cruzi in vivo e in vitroâ€.[11] Aposentou-se na UFMG em 1992, mas continuou atuando na pesquisa e orientação de alunos de pós-graduação. No ano de 2005 recebeu o título de Professor Emérito. Seus trabalhos, no campo da “caracterização bioquímica e molecular do Trypanosoma cruzi e diagnóstico parasitológico e quimioterapia experimental da doença de Chagasâ€, possuem impacto internacional, de modo que em 2020, levantamento da revista Plos Biology, incluiu seu nome na lista dos cientistas mais influentes do mundo.[12]

Chiari foi membro da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Sociedade Brasileira de Parasitologia e Sociedade Brasileira de Protozoologia. Recebeu diversas homenagens ao longo da carreira, como a Comenda Carlos Chagas, do Governo de Minas Gerais (1985); Medalha do Centenário do Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz (2000) e Medalha comemorativa pelo Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, da Faculdade de Medicina/UFMG (2009).

Falecido em 2020, Egler Chiari, que começou a vida profissional exercendo funções técnicas do SNM, encantou-se pela ciência, construiu brilhante carreira como professor e pesquisador, publicou 186 artigos acadêmicos,[13] deixando como legado, além do trabalho científico, seu entusiasmo e compromisso com o conhecimento.

 

 

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenador: Dr. Roberto Sena Rocha.

Texto de: Natascha Stefania Carvalho De Ostos – Doutora em Historiadora

 

 

[1] FIOCRUZ MINAS. Dados funcionais. Documento interno, s./d..

[2] SILVA, Eliane Lages. Egler Chiari (★1934 †2020). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, vol. 53, 2020, p. 1. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/vD6mRWZCMgTkHzNVsPtJTxx/?lang=en#>.

[3] BRENER, Z.; CHIARI, E.. Considerações sobre o diagnóstico da Esquistossomose mansoni pelo eame coprolégico com o método de Hoffman, Pons e Janer. Rev. Bras. Malariol. Doenças Trop., n. 8, 1956, p. 599-604.

[4] PARAENSE, Wladimir Lobato. Declaração. Documento interno Fiocruz Minas, 15 jan. 1963; LOBATO PARAENSE, Wladimir. Egler Chiari. Documento interno Fiocruz Minas, Belo Horizonte, 1 abr. 1963.

[5] COELHO, Marcello Vasconcellos. Declaração. Documento interno Fiocruz Minas, 12 jul. 1966.

[6] BRASIL. Diário Oficial da União, n. 81, 29 abr. 1968, p. 3.440, apud recorte do DOU, Documento interno Fiocruz Minas.

[7] Servidores. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, n. 23.811, 27 nov. 1970, p. 18.

[8] ABC. Egler Chiari. Verbete. Disponível em: <https://www.abc.org.br/membro/egler-chiari/>; BRENER, Z.; CHIARI, E.. Susceptibilidade de diferentes amostras de Trypanosoma cruzi a vários agentes quimioterápicos. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, n. 9, 1967, p. 197-207; CHIARI, E.; CHIARI, E.. Contribuição ao diagnóstico parasitológico da doença de Chagas na sua fase crônica. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, n. 8, 1966, p. 13-138.

[9] BRENER, Z.; CHIARI, E.. Ação da Furadina e do Miracil D sobre os estágios iniciais de desenvolvimento do Schistosoma mansoni no camundongo. Rev. Bra. Malariol. Doenças Trop., n. 9, 1957, p. 485-488.

[10] FIOCRUZ; CPQRR. Centro de Pesquisas René Rachou. Comemoração dos 25 anos de existência. Belo Horizonte, CPqRR, 1980, p. 85.

[11] CNPq. Currículo Lattes. Egler Chiari. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/2044185039545611>; SILVA, Eliane Lages. Egler Chiari. Ibidem; ABC. Egler Chiari. Ibidem.

[12] UFMG. Notícias. Morre Egler Chiari, fundador da pós-graduação em Parasitologia do ICB. Disponível em: <https://ufmg.br/comunicacao/noticias/morre-egler-chiari-fundador-da-pos-graduacao-em-parasitologia-do-icb>; IOANNIDIS, John P. A., BOYACK, Kevin W., BAAS, Jeroen. Updated science-wide author databases of standardized citation indicators. PLoS Biol., 18(10), 2020.

[13] CNPq. Currículo Lattes. Ibidem; SILVA, Eliane Lages. Egler Chiari. Ibidem.