Fiocruz Minas encerra a 32ª Raic

DavidReduz

Com a premiação das melhores apresentações orais, a Fiocruz Minas encerrou, na última quarta-feira (29/5), a 32ª edição da Reunião Anual de Iniciação Científica (Raic). O evento de encerramento contou também com uma palestra ministrada pelo pesquisador David Soeiro Barbosa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o tema Saúde baseada em evidência no contexto de uma só saúde.

Abrindo sua apresentação, Barbosa explicou que o termo One Health, traduzido como saúde única, é uma abordagem integrada que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde das pessoas, animais, plantas e ecossistemas. “A ideia principal desse conceito é considerar a saúde em diversos contextos, buscando melhorar a capacidade de articulação de diferentes setores de forma integrada”, afirmou.

O pesquisador lembrou que a maior parte das emergências sanitárias internacionais tem origem zoonótica. Foi o caso da Covid-19, da H1N1, Chikungunya, microcefalia associada ao Zika, ebola, entre outras. Segundo o palestrante, os fatores que levam ao surgimento dessas doenças incluem globalização, urbanização, invasão humana em áreas silvestres, manipulação ecológica e vários outros, fazendo com que o enfrentamento dessas emergências seja bastante complexo.

“É por isso que se torna tão importante a saúde baseada em evidências, de forma a se usar o acúmulo de conhecimentos para a tomada de decisões. O trabalho que vocês estão desenvolvendo aqui na IC será evidência científica para alguma decisão”, destacou.

Barbosa lembrou que o surto de febre amarela ocorrido em Minas Gerais, em 2016, é um exemplo de emergência que mostra a importância de considerar o conceito de saúde única e cujo enfrentamento deve se basear em evidências. Trata-se, segundo ele, de uma doença que sofre interferências do clima, da ocorrência de chuvas, dos corredores ecológicos por onde os primatas hospedeiros do vírus circulam, além de outros fatores.

“No nosso laboratório, tivemos um estudo que caracterizou a distribuição espacial da transmissão da febre amarela em humanos e nos macacos. Vimos que é algo parecido com o que se via na década de 1940. É muito importante que a gente entenda os processos históricos dessas doenças para entendermos melhor seus determinantes”, afirmou.

Outra doença mencionada pelo pesquisador é a esporotricose, que, na maior parte dos casos, tem transmissão zoonótica, a partir de arranhaduras, mordeduras ou contato direto com lesões de gatos, já que esses animais abrigam um grande número de células fúngicas que podem causar a doença.  “O Rio de Janeiro vive uma epidemia. Em Belo Horizonte, a doença começou pelo Barreiro e vem se espalhando. Já vimos que é uma enfermidade associada a áreas de maior vulnerabilidade social e também a parques. Em BH, o Parque Municipal, onde moram muitos gatos, tem um potencial enorme de transmissão zoonótica”, disse.

O pesquisador contou que, também em relação à Covid-19, houve uma preocupação com o potencial de transmissão da doença por meio de animais domésticos contaminados. Por isso, no primeiro ano da pandemia, foi realizado um estudo multicêntrico para a vigilância do SARsCov-2 em animais de companhia com interface na saúde única. “Fizemos uma busca ativa de animais na casa de tutores que tinham diagnóstico detectável. O estudo mostrou que o papel deles na transmissão não era importante, e que a mortalidade era quase inexistente. Esses dados foram lançados na OIE [Organização Mundial de Saúde Animal] e fizemos também uma ampla divulgação na mídia, orientando a população sobre os cuidados com os animais no contexto da Covid-19”, afirmou.

Barbosa falou ainda sobre as leishmanioses. De acordo com o pesquisador, há várias medidas visando ao controle da doença sendo discutidas na academia: coleira inseticida, eutanásia de cães infectados, vacinação de cães e tratamento canino, vacinação em humanos, saneamento, manejo ambiental, entre outras. “Em relação ao tratamento, recentemente, tivemos uma droga para tratamento canino registrada, devido aos diversos estudos que já existiam. No tocante a vacinas, não temos nenhuma para seres humanos; já para os cães, tivemos uma descontinuada porque não apresentou estudos de fase 3, e outra suspensa pelo Ministério da Agricultura por ter vários lotes fora de conformidade”, contou. Conforme o pesquisador, no momento, a coleira inseticida é a medida indicada para o enfrentamento das leishmanioses, já que uma série de estudos realizados mostrou ser uma ferramenta de simples execução, baixo custo e boa aceitabilidade da população. “A coleira inseticida está sendo incorporada em municípios prioritários e espera-se com isso reduzir casos. Então, a mensagem final é esta: a ciência é feita de investimentos e é isso que faz mudar as políticas públicas”, destacou.

Premiação- Logo após a palestra, as coordenadoras do Programa de Iniciação Cientifica, Juliana Mambrini e Vanessa Peruhype, anunciaram os trabalhos que mais se destacaram durante a Raic. Antes de chamar os premiados para receber os certificados, em nome da Coordenação de IC, Vanessa agradeceu a todas as pessoas envolvidas pelo empenho. “Quero destacar a participação dos alunos de IC; estamos felizes com o envolvimento de vocês e agradeço por isso. Agradeço também a comissão organizadora do evento, especialmente à Ana Karina; ao Núcleo de Comunicação, a todos os pós-docs e alunos voluntários. Dá trabalho organizar e sem a participação de todas essas pessoas o evento não iria acontecer. Muito obrigada”.

Em seguida, Vanessa e Juliana entregaram os certificados aos 14 premiados pelas apresentações orais, que foram: Renato Amorim Rosa; Clara Ferreira Oliveira Dias da Silva; Ana Luisa Ferreira de Lima; Larissa Meira Resende; Ana Carolina Rocha Borges; Dâmaris Sarita de Marcos Neves; Julie Caldeira Gatti; Lorena Palhares Costa; Augusto Bersan Lage Araujo; Maria Fernanda Alves Souza e Silva; Gabriele Aparecida Ribeiro de Souza; Hortência Maria Ribeiro de Carvalho; Mariana de Andrade Fernandes; Ana Beatriz Oliveira Mendes.

Veja abaixo os depoimentos dos premiados.

Renato Amorim Rosa (sob orientação de Cristiana Brito)

Participar da RAIC foi uma experiência única, e muito positiva. O evento me permitiu conhecer melhor os projetos desenvolvidos aqui no instituto, e sinto que também preparou a todos nós alunos para futuras apresentações ao longo da vida. O recebimento do prêmio veio como uma surpresa, e me deixou muito feliz. Tenho muito a agradecer às minhas orientadoras e aos demais membros do meu grupo de pesquisa por terem me apoiado durante o período do evento, e por terem me treinado para a apresentação.

Clara Ferreira Oliveira Dias da Silva (sob orientação de Flora Satiko Kano)

O recebimento do prêmio foi uma enorme surpresa para mim, uma vez que apresentei meu projeto ao lado de outros alunos muito competentes. Por isso, agradeço imensamente a banca, minha orientadora Flora Kano e minha coorientadora Sâmick por confiarem em mim. O evento da RAIC foi grandioso, principalmente com relação ao conhecimento que adquiri ao assistir outras linhas de pesquisas e projetos. Espero muito poder participar das próximas reuniões.

Larissa Meira Resende (sob orientação de Rosiane A. Silva Pereira)

Ser premiada novamente na RAIC, desta vez em uma sessão oral, foi uma honra, assim como ter apreciado e conhecido um pouco mais a respeito dos projetos dos meus colegas. Agradeço à minha orientadora Rosiane Pereira, à minha coorientadora Cristina Toscano por confiarem em mim e no meu trabalho e a todos os meus colegas do BIP pela parceria e apoio. A RAIC é sempre um momento muito rico para valorizarmos nosso trabalho no início de nossa carreira como cientistas.

Ana Carolina Rocha Borges (sob orientação de Fabíola Bof de Andrade)

Participar da RAIC foi uma experiência incrível e enriquecedora. Ano passado, mesmo com o projeto ainda em andamento, fiquei contente em poder participar. Este ano, retornar com a pesquisa finalizada e ser premiada como uma das melhores apresentações orais foi extremamente gratificante. Sinto-me honrada e realizada por esse reconhecimento, que reflete como esse processo contribuiu para minha formação acadêmica e profissional.

Dâmaris Sarita de Marcos Neves (sob orientação de Erika Michalsky Monteiro)

Participar da Raic é uma experiência enriquecedora! É muito bom ter um momento para conhecer o trabalho de outros estudantes de Iniciação Científica. No ano de 2022 fui agraciada pela primeira vez com a premiação e é gratificante ter novamente esse retorno. Sou muito grata ao TFL por me tornar parte da equipe, em especial aos meus orientadores por todos os ensinamentos e incentivo de sempre!

Augusto Bersan Lage Araujo (sob orientação de Eliane de Morais Teixeira)

A participação na 32ª Reunião Anual de Iniciação Científica foi uma experiência muito importante no meu processo de construção profissional. Foi uma oportunidade de divulgar os resultados do projeto da minha iniciação científica para a comunidade do René Rachou, onde também foi possível discutir e trocar experiências com os avaliadores e com os ouvintes. Além disso, o evento me permitiu conhecer o trabalho dos outros alunos e de ver como todos foram tão engajados e dedicados aos seus projetos de pesquisa, realizando excelentes apresentações. Fiquei muito feliz de receber a premiação e tenho muito que agradecer aos meus orientadores: Dra. Eliane de Morais Teixeira, Dra. Líndicy Leidicy Alves e Dr. Daniel de Avelar por tudo que me ensinaram. Gostaria de agradecer também a comissão organizadora do evento e a todos os alunos por terem construído um evento tão grandioso.

Maria Fernanda Alves Souza e Silva (sob orientação de Pedro Augusto Alves)

A participação na RAIC foi muito interessante e fiquei imensamente feliz com a premiação. Pude assistir excelentes apresentações dos meus colegas em diversas linhas de pesquisa e gostaria de parabenizar cada um deles pela apresentação. Inicialmente, bateu aquele frio na barriga antes da apresentação, mas fiquei muito feliz e surpresa pelo reconhecimento da banca e elogios dos demais presentes. Foi um prazer compartilhar um pouco do trabalho desenvolvido pelo meu grupo, e aproveito ainda para agradecer ao meu orientador Dr. Pedro Augusto Alves e à minha coorientadora Dra. Letícia Trindade Almeida por confiarem em mim para fazer parte do projeto.

Mariana de Andrade Fernandes (sob orientação de Cristina Toscano Fonseca)

Foi um prazer participar do evento e levar a premiação. Tive a oportunidade de receber o destaque em 2022, em minha primeira RAIC. Ser premiada novamente, em minha última participação, é um grande presente. Sinto que estou concluindo o meu ciclo como graduanda e bolsista de IC de forma muito especial. Só tenho a agradecer.