Ullysses Moreira dos Santos

Ullysses

  Foto: Arquivo Fiocruz Minas    

 

Nascido em Pancas, Espírito Santo, em 1935, Ullysses Moreira dos Santos iniciou sua carreira científica no Centro de Pesquisas de Belo Horizonte (CPBH), hoje Instituto René Rachou. Ullysses era estudante do curso de farmácia-química da UFMG quando foi convidado a trabalhar do CPBH por Amílcar Vianna Martins, seu professor na universidade. Como estagiário voluntário, ele realizava cultura de cepas em laboratório (Mycobacterium butyricum, tripanosomídeos, leishmanias), manutenção de Toxoplasma gondii em camundongos e diagnóstico da toxoplasmose pela reação de SABIN-FELDMAN.[1]

Tendo em vista seu bom desempenho no trabalho, em meados de 1957 ele foi nomeado auxiliar de pesquisa, quando frequentava o terceiro ano do curso de farmacêutico-químico da Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade de Minas Gerais, concluído em 1958.[2] Na instituição ele auxiliou vários pesquisadores, como José Pellegrino, Eduardo Osório Cisalpino, Wilson Mayrink e Sebastião Mariano Batista, preparando antígenos de microrganismo de culturas.[3] Segundo Ullysses Moreira, ele também atuou em conjunto com Zigman Brener, pesquisando novas drogas para doença de Chagas, testadas em camundongos. No ano de 1961, a pedido de Brener, auxiliou o pesquisador visitante Saul Adler, da Universidade de Jerusalém.

De acordo com Lobato Paraense, no CPBH Ullysses Santos se dedicava a planejar, executar e rever “trabalhos experimentais sobre assuntos de química aplicada à medicina, incluindo estudos sobre metabolismo de agentes etiológicos de doenças endêmicas, atividade de substâncias terapêuticas aplicadas contra os mesmos, cultivos dos referentes agentes em tecidos, e outras investigações bioquímicas de natureza semelhante”.[4] Ao longo de sua permanência na instituição, publicou cerca de sete artigos científicos, principalmente sobre pesquisas em Doença de Chagas.[5] Em coautoria com Zigman Brener e José Pellegrino publicou estudo sobre teste de antígenos contra a leishmaniose.[6]

Entre 1959 e 1960 realizou estágio científico no Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas – Divisão de Patologia Experimental, em Curitiba, Paraná, para estudar Fisiologia e Bioquímica de Protozoários. Na mesma época completou doutorado em Microbiologia e Imunologia, pela Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre os “efeitos da anfotericina B sobre tripanosomídeos”.[7] Com a progressão acadêmica passou a ser registrado no CPBH como auxiliar de laboratório, em 1961 como farmacêutico, e por último como químico.[8] No início da década de 1960, Ullysses Moreira já atuava como professor assistente na Faculdade de Farmácia da UFMG, chegando a titular da cadeira de Microbiologia e Imunologia.

Em 1963, o pesquisador foi transferido, a seu pedido, para a Circunscrição do Espírito Santo do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu).[9] A decisão veio em razão de convite que recebeu para auxiliar na organização da Faculdade de Medicina de Vitória, da hoje Universidade Federal do Espírito Santos (UFES), com dedicação às áreas de Microbiologia e Imunologia, Parasitologia e Doenças Infecciosas. Em sua terra natal, o pesquisador continuou investigações sobre doença de Chagas e leishmaniose. Em 1967, Ullysses Moreira participou do Curso em Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia, com coordenação de Aluízio Rosa Prata.[10]

Como professor da Faculdade de Medicina da UFES, ministrou aulas de meados da década 1960 até 1986, chegando a professor titular. A pedido da reitoria dessa universidade, atuou na organização do curso de Ciências Biológicas da instituição, sendo seu primeiro chefe de departamento e docente de Zoologia de Invertebrados.

Dotado de grande paixão pelos estudos, Ullysses Moreira dos Santos ainda obteve graduação em medicina pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, em 1973. Foi médico e diretor do Hospital e Maternidade de Pancas/ES (1974-1977). Realizou especialização nas áreas de Psiquiatria e Medicina Legal (1975), além de Medicina do Trabalho (1978), atuando como perito nesses campos. Também exerceu a função de chefe do Manicômio Judiciário da Secretaria do Interior e Assuntos da Justiça do ES. Na Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), foi docente por 40 anos, nos campos de Microbiologia e Imunologia, Medicina Legal e Deontologia, chegando a professor titular. Ullysses Moreira é membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. Médico legista concursado, foi diretor do Instituto Médico Legal da Secretaria de Segurança Pública do ES, e nessa área desenvolveu pesquisas sobre autopsia de cadáveres relacionados à alcoolismo e leptospirose.

Em 1963, ainda como pesquisador do CPBH, recebeu prêmio da Oficina Pan-Americana de Saúde, nas áreas da Farmácia, Bioquímica e Saúde Pública, entregue em reunião conjunta das Academias Brasileiras de Medicina e de Farmácia. No ano de 2004 recebeu Diploma de Mérito pela valorização da vida, outorgado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Gabinete de Segurança Institucional/Presidência da República), em reconhecimento pela contribuição à redução de danos relacionado ao uso de drogas no Brasil. Quando da sua aposentadora na EMESCAM, em 2007, foi homenageado pela longa dedicação à instituição. Por sua rica e extensa carreira no campo da saúde, o pesquisador foi homenageado, em 2019, com a Comenda da Ordem do Mérito Domingos Martins, concedida pela Assembleia Estadual do Espírito Santo.

Ullysses Moreira dos Santos continua na ativa, atuando como psicanalista e palestrante. Sua trajetória é testemunho de uma formação humanista, dedicada à promoção da saúde integral e do bem-estar humano.

 

 

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenador: Dr. Roberto Sena Rocha.

Texto de: Natascha Stefania Carvalho De Ostos – Doutora em Historiadora

 

Agradecimento: A Fiocruz Minas agradece ao Dr. Ullysses Moreira dos Santos pela entrevista concedida, e pelo generoso auxílio na elaboração do seu perfil.

 

[1] SANTOS, Ullysses Moreira Dos. Entrevista por escrito concedida à Natascha Ostos, 26 jul. 2022. Projeto Memória: trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou, 8p.

[2] INERu. CPBH. Ullysses Moreira dos Santos. Documento interno Fiocruz Minas. Caixa 17/77.

[3] SANTOS, Ullysses Moreira Dos. Ibidem.

[4] INERu. CPBH. PARAENSE, Lobato. Documento interno Fiocruz Minas, 01 abr. 1963. Caixa 17/77.

[5] SANTOS, U. M.. Efeitos da anfotericina B (Fungizone Squibb) sobre tripanosomídeos. II. Estudo da resistência. O Hospital, n. 62, 1962, p. 383-388; SANTOS, U. M.. Efeitos da anfotericina B sobre a respiração e a glicólise anaeróbica do diafragma isolado de camundongo. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, n. 4, 1962, p. 375-377. In: FIOCRUZ; CPQRR. Centro de Pesquisas René Rachou. Comemoração dos 25 anos de existência. Belo Horizonte, CPqRR, 1980, p. 30.

[6] PELLEGRINO, J.; BRENER, Z.; SANTOS, U. M.. Complement fixation test in Kalazar using Mycobacterium butyricum antigen. J. Parasitol., n. 44, 1958, p. 645.

[7] FIOCRUZ; CPQRR. Centro de Pesquisas René Rachou. Comemoração dos 25 anos de existência. Belo Horizonte, CPqRR, 1980, p. 29.

[8] INERu. CPBH. Ullysses Moreira dos Santos. Ibidem.

[9] INERu. CPBH. Ullysses Moreira dos Santos. Ibidem.

[10] Ales faz solenidade para entrega da Comenda Domingos Martins. Folha do ES, 10 dez. 2019. Disponível em:<https://www.folhadoes.com/noticia/politica-espirito-santo/57861/ales-faz-duas-solenes-entregar-comenda-domingos-martins>.