Estudantes do IRR se destacam no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2022

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Três estudantes da Fiocruz Minas tiveram destaque no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2022: Laís Barbosa Patrocínio, Gabriela Marques Bernardes e Mariana Lourenço Freire. A cerimônia de premiação aconteceu na última sexta-feira (14) e contou com onze contemplados, entre as categorias de premiado e menção honrosa. Concorreram ao prêmio doutores e doutoras, cujas teses tenham sido defendidas entre os meses de maio de 2021 e abril de 2022 nos cursos da Fiocruz e em cursos nos quais a Fundação participa de forma compartilhada.

Dentro da categoria “premiada”, Laís Barbosa Patrocínio, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, foi destaque com a tese Divulgação não autorizada de imagens íntimas: experiências de mulheres e de cuidados em saúde. Sob orientação da pesquisadora Paula Bevilacqua, do Grupo de Violência, Gênero e Saúde, o estudo avaliou os danos à saúde das mulheres que tiveram imagens íntimas vazadas e ainda como se dão os cuidados em saúde necessários nessas situações.

Segundo a pesquisa, os danos gerados para a saúde mental das mulheres depois de serem expostas são diversos, incluindo tentativas de tirar a própria vida, automutilação, depressão, fobias, transtorno alimentar, alcoolismo, dificuldades de se relacionar socialmente e problemas de autoestima. A forma como cada pessoa vai ser afetada está diretamente relacionada à sua história de vida e estrutura familiar. Além disso, a exposição da intimidade agrava fragilidades pré-existentes.

No que se refere aos cuidados, a pesquisa constatou alguns pontos alvo de críticas das profissionais entrevistadas, que atuam na rede de atenção. Entre os aspectos citados estão dificuldade de efetivar uma lógica de rede devido a racionalidades conflitantes entre as instituições, ausência de conforto e privacidade na recepção e no atendimento, necessidade de contar a história a vários profissionais, autoafastamento dos atendimentos que envolvem situações de violência por parte de profissionais, além de julgamentos na assistência policial.

Para chegar aos resultados, foram realizadas entrevistas em profundidade com 17 mulheres que tiveram imagens íntimas divulgadas sem autorização e com dez profissionais de saúde e da assistência social que atenderam mulheres nessa situação. Foram abrangidas 18 cidades de seis estados brasileiros, sendo capitais, cidades litorâneas, do interior e região metropolitana, de pequeno, médio e grande portes.

Para a autora, ter o reconhecimento do trabalho por meio do prêmio, é motivo de muita satisfação, sobretudo neste contexto de retrocesso conservador. “É fundamental a visibilidade aos novos modos de violência contra as mulheres e aos processos de educação em saúde e sexualidade necessários à possibilidade de experiências autônomas e livres de opressão”, destaca Laís.

Menção honrosa- Gabriela Marques Bernardes foi destaque com a tese Multimorbidade entre idosos no Brasil: gastos em saúde, mortalidade e desigualdades socioeconômicas, também por meio do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, sob orientação da pesquisadora Fabíola Bof de Andrade, do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (Nespe). A pesquisa procurou preencher as lacunas da literatura sobre a multimorbidade e a sua relação com os gastos catastróficos em saúde (GCS) e com a mortalidade entre idosos no Brasil, incluindo a avaliação do efeito das condições socioeconômicas nestas relações.  O trabalho envolveu a análise de dados de mais de oito mil participantes da linha de base do “Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-BRASIL)” e de mais de 1.700 participantes do “Estudo Saúde e Bem-Estar e Envelhecimento (SABE)”, dois grandes inquéritos populacionais conduzidos no país.

Os principais resultados revelaram uma maior chance dos idosos com multimorbidade incorrerem em gasto catastrófico em saúde, podendo ser maiores entre aqueles indivíduos que possuem pior condição socioeconômica. Além disso, idosos com multimorbidade podem apresentar um maior risco de morte, quando comparados aos idosos sem a condição. Considerando os resultados encontrados, a tese avança por reforçar a necessidade do manejo integral da multimorbidade nos serviços de saúde, especialmente no contexto brasileiro, onde o processo do envelhecimento acontece de maneira tão rápida e onde a desigualdade no acesso aos serviços é um problema persistente. As evidências encontradas também ampliam o conhecimento científico sobre a temática, reforçando o enorme impacto negativo que a multimorbidade pode acarretar sobre a morbimortalidade e sobre as condições de vida da população que envelhece em um país de média-alta renda.

A mensagem final da tese convoca os sistemas públicos de saúde em todo o mundo para agirem em direção ao enfretamento da multimorbidade e de suas consequências nos próximos anos. Para isso, faz-se necessário a adoção de estratégias e ações que envolvam a promoção do envelhecimento saudável, o alcance da cobertura universal e equitativa dos serviços de saúde e a redução das desigualdades sociais, principalmente entre os idosos.

Para a autora, a premiação é uma possibilidade de dar destaque às pesquisas desenvolvidos pelo grupo do IRR. “Recebi esta honraria com enorme alegria e satisfação, não somente pelo reconhecimento do trabalho de tese que desenvolvi, mas também pela possibilidade de colocar em destaque, no cenário nacional, as pesquisas de excelência realizadas pelo Nespe, da Fiocruz Minas. Serei eternamente grata à Profª Drª Fabíola Bof de Andrade pela brilhante orientação e ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do IRR pela oportunidade”, ressalta Gabriela.

Ainda dentro da categoria “menção honrosa”, Mariana Lourenço Freire foi destaque com a tese Desenvolvimento e validação de técnica imuno-histoquímica utilizando anticorpo monoclonal para o diagnóstico da leishmaniose cutânea. A pesquisa foi realizada dentro do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, sob orientação dos pesquisadores Edward José de Oliveira, do grupo de Genômica Funcional de Parasitos, e Marcelo Pascoal Xavier, do grupo de Imunologia de Doenças Virais.

O objetivo do estudo foi desenvolver uma técnica de imuno-histoquímica para o diagnóstico da leishmaniose tegumentar. Para isso, foi realizada uma revisão sistemática da literatura, buscando identificar alvos antigênicos avaliados para o diagnóstico imunológico da leishmaniose tegumentar e selecionados antígenos considerados promissores para aplicação na técnica de imuno-histoquímica. Os antígenos selecionados foram produzidos pela técnica de DNA recombinante e utilizados como imunógeno em camundongo, para produção de anticorpos monoclonais. O anticorpo monoclonal anti-triparedoxina mitocondrial peroxidase (mTXNPx) produzido foi padronizado e validado na técnica de imuno-histoquímica, possibilitando o diagnóstico correto de mais de 90% dos casos suspeitos da doença.

A técnica de imuno-histoquímica desenvolvida está sendo utilizada para auxiliar no diagnóstico de pacientes com suspeita de leishmaniose tegumentar, atendidos no Centro de Centro de Referência em Leishmaniose. Os promissores resultados obtidos possibilitam também o desenvolvimento de novas alternativas para o diagnóstico leishmaniose tegumentar.

Segundo a autora, a premiação é um estímulo para a continuidade na carreira científica. “Me senti extremamente lisonjeada em recebendo a menção honrosa no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2022. Encaro como um grande incentivo para continuar a carreira científica, especialmente neste momento de negacionismo das evidências científicas e escassez de investimentos para a ciência e tecnologia, que vivenciamos no Brasil”, destaca Mariana.