Mais meninas na ciência: Fiocruz Minas desenvolve projeto com alunas de escola pública

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Em 11 de fevereiro, comemora-se o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. Na Fiocruz, a data entrou para o calendário de eventos em 2019 e também deu origem a um programa que, entre outras ações, estimula a participação de alunas da educação básica no campo científico, por meio do edital Mais Meninas na Fiocruz, tornando a Fundação mais próxima desse público. A Fiocruz Minas aderiu ao programa logo em seu primeiro ano e, desde então, vem desenvolvendo atividades que contribuem para fomentar o debate sobre gênero e promover o empoderamento feminino.

“Mais do que falar sobre ciência, nosso projeto procura estimular a reflexão sobre as desigualdades de gênero, que acontecem não somente na ciência, mas também em outras áreas. Discutimos com as meninas os estereótipos de gênero e procuramos instigar o questionamento sobre o lugar que as mulheres ocupam, muitas vezes imposto pelo preconceito de uma sociedade patriarcal”, afirma a pesquisadora Cristiana Brito, atual coordenadora do projeto Mais Mulheres e Meninas na Ciência do IRR.

Desde o lançamento, cerca de cem meninas, alunas de escolas públicas de Belo Horizonte, participaram do projeto. Em 2019, o foco era o território e, dessa forma, as atividades foram realizadas na Escola Estadual Professor Caetano Azeredo, localizada no Barro Preto, bem próxima à Fiocruz Minas. Além das meninas, o projeto também contemplou as mulheres que moram no entorno da unidade, que contaram histórias do bairro, mostrando a importância de resgatar memórias a partir do olhar feminino. Houve ainda um trabalho com mulheres que vivem em áreas de mineração, dentre as quais moradoras de áreas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho.

Entre 2020 e 2021, devido à pandemia de Covid-19, houve uma interrupção do projeto. As atividades retornaram em 2022 com o projeto Ativismo Juvenil: agenda viva no território das escolas na construção de um mundo mais sustentável, igualitário e sem discriminações e passaram a ser realizadas na Escola Municipal Aurélio Pires, tendo como tema a Agenda 2030. Uma das ações do projeto foi um evento com jovens ativistas da causa ambiental que falaram sobre suas experiências e reforçaram a importância da atuação em rede para a defesa de questões que afetam a sociedade. Além dessa atividade, no decorrer do ano, as alunas selecionaram algumas mulheres que se destacaram na ciência, pesquisaram sobre a vida delas e apresentaram o resultado da pesquisa durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no mês de outubro.

Em 2023, o projeto continuou na mesma instituição, sendo desenvolvido principalmente com as alunas que participam do Programa Escola Integrada e, dessa forma, passam o dia inteiro no ambiente escolar. Assim, a equipe da Fiocruz Minas realizou encontros semanais, promovendo diversas ações. Uma delas foi o evento Saberes dos povos originários e afrodescendentes, em parceria com a Fiocruz Bahia e Fiocruz Manaus, que permitiu às alunas conhecerem um pouco mais sobre as culturas indígena e africana. Em outra atividade, intitulada Conhecendo meu território, as estudantes fizeram uma caminhada pelo bairro da escola, juntamente com uma geógrafa, e foram estimuladas a conhecer melhor e falar sobre o lugar onde vivem. Elas também fizeram um passeio ao Parque Ecológico do Brejinho, em que aprenderam sobre agroecologia e plantas medicinais.  Com o acompanhamento de uma psicóloga, outra ação exitosa, chamada Minha Identidade, abordou o autoconhecimento e autoestima. As estudantes também desenvolveram uma árvore genealógica afetiva, em que puderam refletir sobre as pessoas em quem se inspiram e com quem se identificam. Em outra atividade, tiveram a oportunidade de pensar sobre o que desejam para o futuro, para elas e para o mundo. Houve ainda oficinas de cerâmica e de produção de cosméticos naturais, em que puderam colocar em prática informações teóricas. Para encerrar o ano, as meninas fizeram uma visita à Fiocruz Minas e conheceram diversos laboratórios. Para a coordenadora do projeto, o Mais Meninas na Fiocruz possibilita uma troca valiosa, em que todas as pessoas envolvidas aprendem. “A gente, que propõe as atividades, também cresce muito em contato com as meninas. É um aprendizado a cada encontro”, diz.

Um e-book, com o registro de todas as ações realizadas em 2023, já está sendo produzido. A ideia é que, a partir desse material, a equipe da Fiocruz Minas desenvolva uma cartilha voltada para professores, mostrando o passo a passo de como implementar o projeto na escola. “Esse será o nosso foco em 2024. A meta é ter a cartilha pronta até o mês de maio e, a partir daí, pretendemos definir 3 ou 5 escolas para darmos assessoria e acompanhar a implementação do projeto através da cartilha”, explica Cristiana.

A coordenadora destaca que estimular a presença feminina no campo científico permite ter outros olhares, novos questionamentos, tornando mais rica e diversa a ciência feita no país.  “Por conta da carga de todos esses anos de patriarcado, as experiências femininas trazem um olhar diferente, e trazer esse outro olhar sempre enriquece, pois novas perguntas vão surgir a partir da perspectiva feminina. A ciência, durante muitos anos espaço de homens brancos, conseguir sair desse lugar e trazer mais diversidade só tem a enriquecer. Trazer múltiplos olhares, como o de negros, indígenas, pessoas trans, entre outros, é sempre positivo”, ressalta.