Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz apresenta ações da área para a comunidade do IRR

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Inovação e desenvolvimento tecnológico na Fiocruz foi o tema da apresentação do vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Aurélio Krieger, realizada nessa segunda-feira (22/4), durante um encontro virtual que reuniu trabalhadores e estudantes do IRR. O diretor da unidade, Roberto Sena Rocha, abriu as atividades agradecendo a disponibilidade do vice-presidente que, mais uma vez, se reúne com a comunidade do IRR para falar sobre as principais ações da área.

Iniciando sua apresentação, Krieger relembrou as origens da Fiocruz, destacando que, desde o princípio, a união entre conhecimento científico e inovação possibilitaram à Fundação dar respostas para os problemas enfrentados pela sociedade. “A Fiocruz foi fundada para enfrentar três situações dramáticas, que ocorriam no Rio de Janeiro: peste bubônica, varíola, febre amarela. A instituição foi criada para produzir o soro antipestoso e, historicamente, foi um momento importante, em que a sociedade brasileira pode compreender a importância do conhecimento científico”, afirmou.

Destacando o papel da Fiocruz no enfrentamento de diferentes problemas na área de saúde, Krieger citou duas personalidades relevantes da Fundação, Carlos Chagas e Celina Turchi, que, em momentos distintos, fizeram descobertas que trouxeram novas perspectivas sobre graves situações. “Carlos Chagas descreveu o ciclo completo da doença de Chagas; e Celina Turchi fez a associação entre o aumento de casos de microcefalia em bebês e a infecção por Zika vírus em gestantes”, disse. Ao falar sobre a atuação de Turchi, ele lembrou que, nessa época, o país mal havia saído da emergência causada pelo Zika vírus, alguns estados tiveram que lidar com surtos de febre amarela. “Mais uma vez, a Fiocruz deu resposta, aumentando a produção da vacina, passando de 25 milhões de doses para 67 milhões”, destacou.

Também durante a pandemia de Covid-19, segundo Krieger, a Fiocruz mostrou sua capacidade de resposta com muita contundência, chegando a produzir 1 milhão de testes de diagnóstico por mês. “Fomos procurados pelo Ministério da Saúde em janeiro de 2020 com o pedido de dois mil testes; em fevereiro, antes do primeiro caso no país, pediram mais 10 mil testes; em março, 60 mil. Já, em abril, entregamos 1 milhão de testes. Foi uma importante capacidade de resposta que reforça nosso compromisso com a garantia do acesso à população. A Fiocruz também teve atuação expressiva na produção de vacinas, o que permitiu interromper os casos graves e reduzir a transmissão”, afirmou.

Krieger ressaltou que a Fiocruz é uma instituição complexa, que abrange as diversas unidades de pesquisa e seus laboratórios de referência, uma unidade de controle de qualidade (INCQS), dois hospitais, duas fábricas e escolas. “Costumo dizer que temos parte do NIH [National Institutes of Health] dentro da Fiocruz. O braço tecnológico da Anvisa, o INCQS, está localizado dentro da Fundação. Temos a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), como importante formuladora de políticas públicas; temos dois hospitais, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) e o Instituto Fernandes Figueira (IFF); temos duas fábricas, Bio-Manguinhos e Farmaguinhos. Esse ecossistema complexo é parte de nossa história”, disse.

Instituição inovadora- Segundo o vice-presidente, a inovação é uma característica da Fiocruz. Em seus dois últimos congressos internos, a instituição reforçou a importância dessa característica e decidiu melhorar sua capacidade de inovar. Para isso, criou uma política de inovação com base em discussões e com uma série de diretrizes, buscando também explorar o Marco Legal de Ciência e Tecnologia.

Conforme Krieger, como resultado das decisões acordadas no Congresso Interno, foi implementado, em 2018, o programa Inova, visando melhorar a integração entre inovação e produção. Ele lembrou que o programa foi lançado no primeiro mandato da então presidente Nísia, como estratégia de resistência, buscando captar recursos em um momento de muitas dificuldades para a ciência brasileira, que sofria constantes cortes de recursos.

“Essa ação de resistência se mostrou muito adequada; prova disso é que, em 2022, quando se registrou uma queda no número de artigos publicados no país, entre os pesquisadores que tiveram projetos aprovados pelo Inova, houve um aumento de 20% no número de publicações. E teve também um aumento na qualidade, no fator de impacto das publicações. Isso mostra que a política de resistência se tornou uma política de avanços. Desde 2018, o Inova já investiu 250 milhões de reais, lançou 35 editais, teve 2495 projetos submetidos, 1100 aprovados. E, dos aprovados, 52% coordenados por mulheres”, ressaltou.

Krieger destacou que uma das preocupações do Inova é melhorar a integração entre os autores de projetos que visam gerar produtos e as unidades produtivas da Fiocruz. Nesse sentido, foi criado o Café com Inovação, que visa promover a oferta de tecnologias criadas nas unidades da Fundação para as áreas finalísticas. Segundo Krieger, um total de 140 tecnologias foi ofertado e, para 103 delas, houve manifestação de interesse por parte das unidades produtivas.

Ainda conforme Krieger, para os projetos que não forem viáveis para as fábricas da Fiocruz, uma das soluções encontradas é a criação de spin-off. Alguns exemplos são a Nortec Química que nasceu dentro de Farmaguinhos e ficou independente; o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), criado em parceria com o governo do Paraná; e o Método Wolbachia, que, a partir da criação de uma spin-off, vai permitir a ampliação do programa.

Outra importante ação do Inova é a implementação de um Programa de Apoio ao Empreendedorismo, tendo em vista que grande parte do conhecimento gerado não é incorporado ao sistema de saúde porque a pesquisa ainda não está suficientemente desenvolvida para atrair um parceiro industrial ou um investidor ou, também, por não ter sido pensado com esse propósito. “Fomos, então, estudar os modelos que existem pelo mundo e nos inspiramos no modelo do Instituto Pasteur, que permite que o desenvolvimento seja feito dentro da instituição, antes de se criar um CNPJ. Selecionamos três projetos piloto que, agora, já estão virando empresa”, contou. Os selecionados foram uma ferramenta para diagnóstico precoce para câncer de mama; um equipamento para diagnóstico neurofisiológico chamado Tempo Certo; e uma plataforma digital, denominada Zelo, voltada para a gestão do cuidado da pessoa idosa.

De acordo com o vice-presidente, a Fiocruz hoje colhe alguns frutos gerados a partir do Inova. Entre eles, está a decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) de definir Bio-Manguinhos como centro para desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro na América Latina. Outro resultado relevante foi o registro na Anvisa de dois novos testes moleculares (RT-PCR) para o diagnóstico de Covid-19, desenvolvidos a partir do Inova. Houve também o desenvolvimento de uma tecnologia para reconstrução craniana, além da implementação de um novo sistema de qualidade para o Banco de Leite Humano. O Inova gerou ainda uma parceria entre a Fiocruz e a empresa Nortec Química, visando atuar no aprimoramento da produção do insumo farmacêutico ativo (IFA) do benzonidazol, único medicamento usado no Brasil contra a doença de Chagas.

Krieger também contou que a Fiocruz ocupa a primeira posição de um ranking divulgado recentemente pela Anvisa, listando as 20 organizações independentes do setor farmacêutico que mais faturaram em 2022. Para o vice-presidente, tal informação permite ter a dimensão da importância da Fiocruz na indústria e reforça a necessidade de pensar em inovação de forma distinta, pois a Fundação tem um compromisso social.

Novas terapias- Assim, pensando nesse compromisso, segundo o vice-presidente, a Fiocruz encomendou um estudo de impacto orçamentário no SUS das chamadas ‘terapias avançadas’, traçando cenários para os próximos cinco anos. “Esta estimativa variou entre 4 bilhões, no cenário mais conservador da incorporação dessas tecnologias, a 14,5 bilhões no cenário mais acelerado. Isso comprometeria significativamente o orçamento do SUS, considerando somente os 15 produtos hoje registrados nas agências internacionais. A única solução para isso é o desenvolvimento tecnológico”, afirmou.

Krieger contou que a Fiocruz vem buscando estabelecer parcerias com instituições que já atuam com essas terapias. Uma delas foi firmada com a organização americana Caring Cross, que permitirá a produção no Brasil, com exclusividade na América Latina, de células CAR-T e vetores lentivirais. A parceria envolve também o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e vai dar ao Brasil condições de reduzir custos e ampliar a oferta à população de tratamentos para os cânceres hematológicos, as doenças infecciosas e genéticas.

“O acordo firmado se baseia em um modelo descentralizado, com a instalação de contêineres, permitindo a capilarização rápida em outros centros pelo país. Isso vai possibilitar uma rápida ampliação, com a democratização do uso dessa tecnologia em serviços públicos e privados, com controle de garantia de qualidade por parte da Fiocruz”.

Segundo o vice-presidente, a tecnologia que tem sido usada na produção de vacinas é muito semelhante às que estão sendo utilizadas em produtos derivados de terapias avançadas. Ele destaca que não se trata apenas de um produto, mas de uma nova plataforma de produtos.

Além da parceria, a Fiocruz lançou também um edital Terapias Avançadas, destinado ao apoio de atividades de pesquisa e inovação para o desenvolvimento de produtos na área de terapias avançadas, consolidando assim essa temática dentro da instituição. O edital também busca, a médio prazo, gerar conhecimento, produtos, metodologias e serviços inovadores para atendimento a necessidade da sociedade e do SUS.

Conforme Krieger, outra importante parceria, voltada para as terapias gênicas, vem sendo firmada com o grupo do professor de Medicina da Universidade da Pensilvânia, James Wilson. A proposta é que a Fiocruz trabalhe em seis projetos já em fase clínica, passando a ser a produtora global. “A Fiocruz ficará com a produção e controle de qualidade, baixando os custos dessas terapias em torno de 80%. Geralmente, a Fundação vem se associado à indústria farmacêutica em seus processos produtivos, mas, agora, a partir de uma visão estratégica, estamos nos associando à academia e, com isso, vamos reduzir os custos dos processos”, explica Krieger. Ele ressalta que todas essas ações estão sendo possíveis graças às discussões internas realizadas no Congresso Interno, colocando a inovação como área estratégica da Fiocruz.